4 anos após o anterior lançamento num “soft reboot” da franquia, a Sony Santa Monica traz-nos o muito aguardado “God of War Ragnarok”, que visa dar fim à demandada começada por Kratos e Atreus na anterior entrada na série.
Para mim “God of War (2018)” é um dos melhores jogos já feitos, tendo não só redimido Kratos, tornando-o um pai que aos poucos vai admitindo e demonstrando o amor que tem pelo seu filho, ao mesmo tempo que o tenta afastar dos erros do seu passado, como serviu também para salvar a franquia da monotonia ao nível da jogabilidade, que em 2013 na altura que foi lançado “God of War Ascension” era já muito notória, fazendo uma junção quase perfeita de um foco maior na narrativa ao mesmo tempo que manteve um excelente sistema de combate, tendo sido muito aplaudido por fãs e críticos e ganhando centenas de prémios de jogo do ano.
Por essa razão as expectativas para este novo jogo eram muito altas, e posso dizer que pelo menos no que toca a mim este jogo as cumpriu por completo, e apesar de alguns descuidos pelo caminho, é uma experiência magistral que vai ser relembrada no futuro.

“God of War Ragnarok” começa cerca de 2 anos após o final do predecessor, em pleno Fimbulvetr, o inverno eterno que precede o Ragnarok, um evento que é profetizado como o fim dos 9 reinos do mundo nórdico num só cataclismo.
A missão de Kratos e Atreus (e Mimir, verdade seja dita) é então arranjar forma de não só se manterem uma família unida, como arranjar forma de travar o Ragnarok e a eventual guerra com Asgard.
No geral, este jogo possui uma narrativa envolvente tal como o anterior, no entanto realço que existem umas poucas sequências de maior duração, tão lineares e focadas na história que sinto que serão mais divisivas, afetando o ritmo geral da história e por vezes estendendo-se mais do que seria realmente necessário, todavia sinto que os elementos introduzidos nestas sequências são tão bem utilizados na parte final do jogo que não afetaram tanto a minha experiência pessoal, mas é algo importante de salientar.
Outro grande destaque a nível de escrita são os diálogos entre as diversas personagens, que são ainda melhores que no passado jogo, Kratos embora continue bastante estoico mostra o maior leque de emoções até hoje, revelando que aos poucos o seu filho e Mimir o tornam uma pessoa melhor, que tal como Kratos têm uma escrita excelente e raramente há conversas que não expandam o universo que o jogo se encontra ou as relações entre personagens, é de louvar o trabalho nestes diálogos e o seu papel em tornar a narrativa ainda melhor.

Visualmente, “God of War Ragnarok” não alcança os níveis de “Ratchet & Clank: Rift Apart” ou de “Horizon: Forbidden West”, mas continua a ser um jogo bastante bonito visualmente, possuindo diversos modos visuais na PS5: Qualidade(4K/30fps), Performance(4K dinâmico/60fps), Alta Performance(1440p/120fps) e Qualidade VRR(4K/40fps)
Todos os locais que visitamos ao longo da aventura são diversos e bastante interessantes ao nível da composição dos cenários, sendo rara a paisagem que não nos capta a atenção.
A banda sonora, mais uma vez composta por Bear McCreary, é estonteante, um trabalho fenomenal que poderia ficar horas a escrever sobre os meus temas favoritos, podendo ser ouvida aqui.
O trabalho vocal também está excelente tanto na versão original como na dobragem Portuguesa, onde destaco Ricardo Carriço como Kratos, Virgilio Castelo no papel de Odin e Solange Santos a fazer de Freya, mas no geral todo o elenco faz um trabalho de topo, cimentando-se como uma das melhores dobragens de jogos feitas no nosso país.

O combate deste jogo é basicamente o mesmo que o anterior, mas altamente refinado, por exemplo agora podemos mudar de armas na mesma combinação de ataques sem quebrar o ritmo de ataques e ambas as armas estão mais distintas, sendo agora possível usar as lâminas para apanhar inimigos à distância e os projetar no ar, mudar para o machado e o congelar contra a parede.
Além disso denoto que a esquiva neste jogo está muito mais eficaz e prazerosa de se usar, porque tal como a mudança de armas é possível manter os ataques quando nos esquivamos nunca quebrando a fluidez das nossas ações.
Uma das grandes criticas ao anterior jogo é que a variedade de inimigos e bosses era demasiado pequena, algo que felizmente aqui foi colmatado da melhor maneira possível, cada reino tem tipos de inimigos distintos, e os bosses também são muito mais variados, e embora haja alguma repetição de tipos de inimigos na reta final, a variedade é tanta que sinto que só se forem para completar o jogo a 100% irão notar este problema.

Ao nível da estrutura, o jogo continua a possuir um mundo semi-aberto, neste caso quase 9, cada reino tem tamanhos distintos mas quase todos têm algo que fazer e exploração é algo que não vai faltar, sendo preciso por vezes voltar mais tarde com novas habilidades, fazendo lembrar um “Metroidvania” típico, algo que é sempre agradável e dá sensação de progressão palpável. Como o anterior o que não faltam são colecionáveis como Corvos de Odin, artefactos, pergaminhos, entre outros, mas o grande destaque desta vez são as missões secundárias, que são sensacionais, não sendo apenas missões genéricas de ir de x para y ou apanhar simplesmente itens e acabar sem grande impacto, praticamente todas as missões secundárias adicionam bastante ao mundo e personagens neste jogo, mesmo as genéricas, sendo algumas mesmo inesquecíveis e se me perguntassem melhores que algumas missões principais de tão boas e impressionantes são em dimensão e importância geral, tanto que o verdadeiro final do jogo de certa forma é uma missão secundária que recomendo com todas as forças a toda a gente, sinto que é obrigatória para desfrutar o máximo deste título.
Como já é normal em títulos da PS5, este jogo usa o Dualsense e os seus gatilhos adaptativos e “Haptic Feedback” para grande efeito, conferindo impacto às nossas ações e tornando a ação das cinemáticas imersiva, sendo um jogo que usa bastante bem o comando, porém tendo em conta as expectativas deixadas pelo predecessor com simples vibração sinto que podiam ter feito ainda mais para tornar o Leviathan Axe ainda mais “pesado” e impactante em combate.

Em suma, “God of War Ragnarok” não só correspondeu às enormes expetativas como de certa forma as superou, sinto que é obrigatório a qualquer fã e pessoa que possua uma PS4 ou PS5, com a ressalva que o anterior é praticamente obrigatório para desfrutar deste, pois acabam por ser basicamente um só jogo gigantesco de tão bem que se complementam, é verdade que não reinventou a franquia e indústria como o anterior, mas não precisava, melhorou em praticamente tudo e embora o seu ritmo narrativo tenha percalços em partes, estamos perante uma experiência maravilhosa à qual atribuo 10/10.