Como classificam a série God of War, do pior ao melhor?

Devia eu ter uns 11 ou 12 anos quando um amigo meu me convidou à casa dele para me mostrar “um jogo brutal” na sua PlayStation 2. Na sua capa, víamos apenas as costas de um personagem corpulento com uma tatuagem vermelha a percorrer a sua coluna e braço e a segurar duas lâminas em fogo com o logótipo “God of War II” no topo. Até à altura, nunca tinha ouvido falar ou visto o Kratos ou God of War, acreditem ou não. Fiquei logo surpreendido com a brutalidade do jogo da Santa Monica Studios, com os seus puzzles e os quick-time events que me deixavam boquiaberto, estava eu habituado a jogos de ação como o Ratchet & Clank, Tomb Raider ou GTA na minha PS2 que algo tão frenético e sangrento era “muita fixe” e agarrou-me logo. Este meu amigo eventualmente emprestou-me o jogo e lá o passei todo em casa (escondido dos meus pais) e a partir daí estive atento a notícias e lançamentos de mais God of War durante algum tempo.

Afastei-me da série quando escolhi a Xbox 360 em vez da PS3, e não voltei a jogar até ter comprado uma PS3 usada e os God of War 3 e Ascension, anos depois dos seus lançamentos. E a minha opinião mudou, o que antes era “fixe” passou a ser edgy, o Kratos era insuportável nas últimas entradas da saga grega e o gameplay estava a estagnar.

Entra o “reboot” que é o God of War 2018 e tudo muda. O gameplay está completamente diferente, Kratos tem um filho e o tom geral da narrativa parece ter amadurecido, as expectativas estavam altas e a Santa Monica não falhou em alcançá-las, o God of War para a PS4 foi dos meus jogos favoritos do ano e é um dos melhores jogos da Consola. A última entrada: God of War Ragnarök, está a pouco mais de um mês de celebrar o seu aniversário e, tendo o jogado este ano, porque não fazer e discutir uma classificação geral da série, do pior ao melhor, como fizemos com outras séries antes?

Pois bem, eu lá me lembrei de rejogar a série completa nos últimos meses (em antecipação ao God of War Ragnarök, que ainda não tinha jogado até aqui), e de memória fresca, deixo aqui a classificação do Fun Factor, com a ajuda do Diogo, também fã de longa data da franquia:

God of War: Betrayal

Fonte

Miguel: Até o Java para telemóvel joguei, aqui não escapa nada (tirando o A Call from the Wilds). O Betrayal, para todos os efeitos, é 100% descartável, como seria de esperar dum jogo java para telemóvel. Contudo, não me deixou de surpreender no departamento visual, para o título que é, nota-se rapidamente o esforço que foi posto na arte e animações. O combate é simples, como seria de esperar, e os níveis não têm nada de especial a destacar. É curto, felizmente.


God of War: Chains of Olympus

Fonte

Miguel: A estreia do Kratos na primeira portátil da PlayStation (a PSP foi tão boa) é bastante sólida. O Chains of Olympus funciona como prequela ao primeiro jogo, cobrindo a história de quando Kratos, em servidão aos deuses, enfrenta Morpheus no mundo dos mortos e encontra a sua filha no Elísio. O jogo explora mais um pouco da mente do protagonista e reforça o amor de Kratos pela sua família e o ódio que tem aos deuses quando é forçado a deixar a sua filha para trás para salvar o Olimpo (irónico). Há um Quick-Time Event extremamente ridículo que quero que vejam. Mas, embora sólido, o Chains of Olympus não se destaca em nada, é seguro, simples e um pouco esquecível.


God of War: Ascension

Fonte

Miguel: O Ascension é o “porque é que ainda estamos a fazer isto?” da série. Com o final (quase) definitivo do God of War III, não devia haver muitas ideias para continuar com a série, mas isso não impediu o estúdio e a produtora de aproveitar o sucesso da série para fazer mais uns trocos (e o modo multijogador lá espetado, porque era um requerimento na altura, só reforça isso a meu ver). Ao menos os valores de produção são altos e apresenta-se como espetáculo visual, tanto no combate contra os bosses como no mundo em redor. Todavia, as decisões tomadas para alterar o combate são, no mínimo, estranhas: Os combos estão limitados a uma barra de “rage”? O jogo raramente é desafiante mas depois há uma ou duas secções cheias de inimigos que pareceu uma tentativa falhada em oferecer desafio. E no final de tudo, o jogo deixa o mesmo sabor que a sua narrativa: inconsequente.

Diogo: God of War: Ascension não é um mau jogo, de todo, mas é tão banal e desinspirado que foi o jogo que me fez ficar exausto da fórmula antiga desta franquia de vez, nota-se que é uma prequela feita para ganhar uns trocos, pois a história além de aborrecida é também algo inconsequente ao resto da série.
O combate é, no entanto, divertido mas não ajuda muito quando o design dos níveis é tão insípido, não havendo grande desafio durante grande parte da campanha, tirando o “Trial of Archimedes”, que no lançamento foi das coisas mais difíceis que já passei num jogo, sendo tão difícil que a Santa Monica teve de o atualizar mais de 2 vezes.
O grande trunfo do jogo acaba por ser os seus visuais, que são absolutamente estonteantes, diria que é de longe o jogo com melhor aspeto na consola, fazendo mesmo por momentos lembrar um jogo de PS4. Este jogo também tinha multiplayer, mas ninguém quis saber e se teve uns 10 jogadores já deve ter sido muito.


God of War: Ghost of Sparta

Fonte

Miguel: O Ghost of Sparta segue mais ou menos o mesmo caminho que o Ascension, onde é um jogo que saiu depois do final da saga com o God of War III, e é onde se nota mais que a série está estagnada e sem rumo. A razão por estar acima do Ascension é pura e simplesmente eu a dar pontos extra ao facto deste título ser um jogo impressionante para a PSP. E ao menos fizeram algo interessante com a narrativa, cobrindo a história do Kratos e o seu irmão Deimos. Não há nada de único no Ghost of Sparta, mas é uma aventura simples, sólida e curta com um bom ritmo.


God of War III

Fonte

Miguel: Ui ui, o que dizer sobre o God of War III? O estúdio pegou em tudo o que fazia God of War… God of War, e multiplicou por dez, tanto o bom como o mau. Em termos de gameplay é capaz de ser o pico da saga grega: combate bombástico com bosses atrás de bosses cada um maior e mais cinemático que o outro, QTEs que nunca acabam, e um Kratos mais brutal, mais edgy e mais insuportável que nunca. Se jogarem tudo de seguida como eu fiz, notam já a repetitividade neste jogo. Eu diria que o jogo ao menos sabe o que é, mas para vos ser sincero, não tenho essa certeza, será que a escrita se acha mais séria do que realmente é? Ou sabe que o próprio enredo e personagens são exagerados, mas dedica-se a 120% a isso ao ponto de desfocar essa linha entre o sério e o paródico? Sinto que os seus antecessores não estavam a este nível de exagero.

Numa nota à parte, também foi o primeiro com dobragem em Português Europeu e “ZEUS, O TEU FILHO VOLTOU” nunca me vai escapar da memória (não sei o resto porque troquei logo para a dobragem original).

Diogo: Este jogo pode ser resumido em 3 palavras: Épico, hilariante e repetitivo. Por um lado temos os melhores combates da série ao nível do espetáculo visual, em especial a luta inicial contra Poseidon é possivelmente a mais épica de todos os jogos a nível de escala, e a partir daí Kratos aniquila o restante panteão de 1001 formas brutais, mas chegou um ponto quando o rejoguei que já estava a ficar exausto e mesmo na dificuldade máxima o jogo pode ser trivializado com o mesmo combo em todas as lutas, acabando por ficar cansativo e aos poucos foi-me esgotando nesta fórmula, algo que culminou no Ascension.

O jogo é também hilariante, porque não só a narrativa retrata um Kratos completamente paródico como a dobragem Portuguesa é medonha, de longe das piores que já joguei, mas entretém de tão má que é. Kratos neste jogo só consiste numa única coisa: Matar, tudo o resto é barulho de fundo ocultado pelos milhares de berros e litros de sangue derramados.

Houve um tempo que este era dos meus favoritos, mas atualmente não o consigo pôr no mesmo pedestal.


God of War

Fonte

Miguel: Aquele que começou tudo e só por isso tem de ter uns pontos extra nesta classificação. God of War entra muito literalmente a matar. Com aquela fase do barco a ser invadido e destruído por uma hidra, é difícil esquecer o momento em que a derrotam e começam a desvendar a história cheia de testosterona por trás do Kratos. Eu acho que o jogo nunca realmente consegue superar estes primeiros minutos de combate com a hidra, e sou da opinião que a procura pela caixa da pandora é demasiado longa, em grande parte do tempo eu só queria encontrar o raio da caixa e ir lutar contra o boss final. Não obstante, o jogo envelheceu melhor do que esperava, ainda que saiba mesmo a um protótipo do que vinha a seguir.

Diogo: Este jogo significa imenso para mim, foi possivelmente o primeiro jogo de PS2 que alguma vez joguei, num daqueles discos de demos que vinham nas revistas e repeti essa sequência inicial da Hidra na demo dezenas de vezes, quando finalmente joguei o jogo completo adorei a experiência e embora seja o mais simples da série é também o mais divertido de se rejogar, podendo ser passado numas meras 2 horas e meia a 3 horas, algo que aprecio sempre, seja em God of War, ou Resident Evil, por exemplo.


God of War II

Fonte

Miguel: Chegámos ao meu favorito (pré-2018). Tenho uma certa parcialidade por ter sido o primeiro que joguei. Mas mesmo depois de ter rejogado, continua a ser o que mais me entretém ao longo da campanha. Kratos, embriagado com o seu próprio poder, é humilhado por Zeus, e se ele já não gostava dos deuses antes disto, agora ficou mesmo chateado. God of War II melhora todos os aspetos do primeiro jogo, há mais bosses, mais inimigos, o combate foi aprofundado e os QTEs são ainda mais persistentes, e é um jogo sólido do início ao fim, cheio de momentos incríveis, desde a luta inicial com o colosso, a viajar no tempo até aos acontecimentos do primeiro jogo, também tem alguns dos meus puzzles favoritos na série e é um dos dois que foi dirigido pelo Cory Barlog (o outro sendo o 2018). Se há algo que me surpreendeu aqui, foi os visuais e áreas, a série sempre foi muito forte no que toca a puxar o hardware a seu dispor e a escala dos níveis que isto alcança na PS2 é impressionante.

Diogo: God of War II pega no que o seu antecessor fez e supera-o em quase tudo, os visuais são incríveis para a consola em que se insere, os níveis e batalhas têm uma escala nunca antes vista na PS2 e a narrativa é provavelmente a melhor da fórmula original da série, demonstrando o começo da vingança de Kratos contra o Olimpo e Zeus, que estava farto das constantes guerras causadas por Kratos e o seu exército espartano, o que despoleta a fúria do protagonista que vemos em todo o seu esplendor, para bem e para mal, no terceiro jogo.


God of War Ragnarök

Fonte

Miguel: Cá estamos. A entrada mais recente da série e o segundo jogo da saga nórdica. A meu ver, não há comparação possível entre as duas sagas de God of War e esta mais recente está num patamar tão mais alto que a anterior que bem podíamos ter tido duas listas completamente diferentes. Escolher o top 2 foi extremamente fácil, o que custou foi decidir qual era o nosso favorito, o Ragnarök ou o 2018, e se me perguntarem qual eu prefiro daqui a uns dias, não vos garanto que a resposta vai ser a mesma.

O Ragnarök é incrível, uma sequela mais que digna do “reboot” e uma aventura fenomenal. Não era fácil executar o enredo e corresponder às expectativas dos fãs, mas a Santa Monica conseguiu este feito numa jornada (ligeiramente mais longa do que eu gostaria) inesquecível. E onde eu já gostava imenso do estilo de combate novo por ser mais tático e desafiante, o Ragnarök tornou ainda mais versátil.

Diogo: “Obra Prima”, é como descreveria este jogo, aliás dependendo do dia que me perguntarem qual o melhor da franquia a minha resposta podia tanto ser este como o seu antecessor.

Ragnarök melhora praticamente tudo o que foi feito no 2018 e marca o fim da jornada de quase 20 anos a seguir Kratos e as suas matanç… aventuras tanto pela Grécia como agora pela Escandinávia, contendo algumas das melhores lutas da franquia inteira (aquele primeiro confronto com Thor é lendário), mas também uma narrativa emotiva e bastante épica que leva Kratos e os seus aliados a aventurar-se pelos 9 reinos para travar Odin e os seus planos. Honestamente tirando o ritmo narrativo algo desequilibrado em algumas das sequências de Atreus não consigo apontar falhas a este jogo, por alguma razão lhe atribui um 10/10 e não me arrependo de o ter feito.


God of War (2018)

Fonte

Miguel: Eu não estava interessado em mais God of War antes do trailer de 2016. A série tinha estagnado para mim, tanto em termos de jogabilidade como narrativa. Até que a E3 de 2016 revela o novo jogo, e vemos um Kratos com o seu filho, um Kratos mais maduro, uma nova perspetiva (tanto de câmara, como de narrativa), e um combate mais lento, mas que para todas as aparências, era menos “button-mashy” e mais metódico. Assim que vi o trailer eu era o Al Pacino no Padrinho 3. Fiquei agarrado e ansioso para este novo Kratos, e não só o jogo de 2018 alcançou as expectativas, como as superou, a escrita é boa desta vez, o protagonista é uma personagem envolvente em vez de uma paródia de si próprio, e há um mundo e narrativa interessantes para explorar. Este impacto é, ultimamente, a razão principal por termos classificado o jogo de 2018 acima do Ragnarök, e defendo que esta drástica mudança de estilo dentro da série foi a melhor coisa que podiam ter feito.

Diogo: Eram 2 da manhã e eu tinha acabado de me sentar para ver a conferência anual da Sony na E3 sem grandes expetativas, até que de repente uma orquestra liderada por Bear McCreary começa a tocar uma música com cânticos MUITO semelhantes ao estilo que esta franquia já nos habituou e o que se seguiu foi um trailer que demonstrou uma completa revolução do que tinha sido feito até hoje nesta já longa série com altos e baixos. Mas admito, inicialmente não fiquei convencido, a jogabilidade parecia algo lenta e o maior ênfase na narrativa preocupou-me dado que esta franquia nunca foi dada a grandes esforços nessa vertente.

A realidade é que quando chegou o dia de lançamento eu fiquei completamente estupefacto com a qualidade deste jogo, de tal forma que joguei quase 12h seguidas sem o notar, a narrativa é soberba, demonstrando na perfeição a relação de Kratos com o seu filho, Atreus e o aprofundar desta relação, pode não ser tão épica como os seus antecessores ou a sequela, mas é provavelmente o seu maior trunfo e a razão que o ponho acima de Ragnarök nesta lista, esta maior simplicidade, com um objetivo claro em mente torna mais fácil o foco nas personagens e as suas relações, chegando ao fim tão apegado às mesmas que admito ter chorado quando os créditos apareceram.

Além desta narrativa, o jogo tem também um novo sistema de jogabilidade na terceira pessoa que é possivelmente ainda melhor que os originais para mim, todos os golpes são pesados e satisfatórios e as diferentes habilidades e armas tornam-no muito divertido de se dominar aos poucos. Se nunca o jogaram e têm uma consola da Sony diria que é mais que obrigatório.


E vocês, como classificam a série da PlayStation? Deixem a vossa lista aqui ou nas redes sociais!

Leave a comment