Depois do enorme sucesso critico e comercial de “The Legend of Zelda: Breath of the Wild” os fãs ansiavam por uma sequela o mais rapidamente possível, sequela essa que foi anunciada na E3 2019 e deixou a comunidade com bastantes expectativas. Com sequela anunciada e um ano de 2020 menos “bombástico” por parte da Nintendo, muitos fãs já não esperavam grandes novidades, mas eis que no dia 8 de Setembro, sem grandes cerimónias ou leaks que pudessem evidenciar a sua chegada, a Nintendo anunciou “Hyrule Warriors: Age of Calamity”, um spinoff passado 100 anos antes da história de Breath of the Wild, produzido pela Koei Tecmo (criadores de Dynasty Warriors e inúmeros spinoffs onde se inclui o primeiro Hyrule Warriors). Hyrule Warriors insere-se no género “Musou”, onde enfrentamos centenas de inimigos em simultâneo enquanto capturamos bases inimigas e cumprimos os objectivos pedidos.
Dado o espaço temporal em que decorre a acção temos um novo olhar sobre diversas áreas do jogo original, tal como um aprofundar nas relações entre as diversas personagens que compõem o elenco principal e que em Breath of the Wild não tiveram tanto destaque.
Vou ser honesto, não sou grande fã de Breath of the Wild e da sua história, que achei bastante fraca para o potencial que tinha, mas tenho de admitir que adorei o enredo de Age of Calamity, não só pelo seu maior foco narrativo mas pela forma como trata as diversas personagens e lhes dá nuances, especialmente a Zelda que é francamente a personagem principal do jogo e é incrível ver o desenlear desta história através dos seu ponto de vista, se são fãs de The Legend of Zelda e estão algo receosos de experimentar este por ser uma mudança tão drástica recomendo imenso darem uma chance a Age of Calamity eventualmente, certamente não irão sair desiludidos.

Uma das maiores criticas a Breath of the Wild na altura em que foi lançado foi o seu voice acting fraco, no entanto aqui não tenho muito que apontar, não é nenhuma maravilha que ganhará prémios e ainda há uma ou outra voz com pior desempenho, mas no geral é uma melhoria tremenda em comparação ao seu antecessor. Cada personagem tem a sua personalidade muito bem captada e mesmo em combate temos algumas interacções engraçadas que nunca teriam acontecido não fosse a época em que o jogo se insere.
A nível da jogabilidade, Age of Calamity é bastante básico no que toca a Musous, não tem tanto foco em estratégia nem em defesa de territórios. Sendo um jogo com um ritmo bastante mais rápido e recheado de acção constante, algo que sinceramente não desgostei porque o combate é cativante e aprecio terem-se focado mais nessa vertente. O combate é viciante e há satisfação em dominar cada personagem pois todas elas apesar dos controlos generalizados, são bastante variadas entre si, por exemplo o Link foca-se em 3 tipos de armas diferentes que alteram o seu estilo de jogo, já Revali é uma personagem focada em combate aéreo e mais difícil de se aprender a utilizar ao máximo por ser tão distinto, e o jogo incentiva a essa aprendizagem constantemente com desafios de nível cada vez mais alto onde errar é progressivamente mais penalizador.
Age of Calamity incorpora na perfeição as diversas mecânicas introduzidas em Breath of the Wild, como os Flurry Rush (basicamente um “Witch Time” como nos Bayonetta) e os Perfect Guards, mecânicas essas que achei algo pouco aproveitadas em junção com o sistema de armas destrutíveis mas aqui são incríveis de se usar e nas mãos certas tornam os combates verdadeiras obras de arte de destruição. Graças a estes factores, dei por mim várias vezes a pensar “só mais uma missão” acabando por estender a sessão mais umas horas, no entanto nem tudo é um mar de rosas, a estrutura de Musou continua repetitiva e isso é algo que afasta muitas pessoas deste género, infelizmente Age of Calamity padece deste mal, não senti fadiga alguma durante a história principal de tanto que estava a gostar mas as restantes missões secundárias e algumas que requerem mais grind do jogador tornam-se bastante monótonas ao fim de umas horas, em especial quando a maioria dos mapas neste jogo se repetem diversas vezes.
Aos diversos problemas estruturais soma-se ainda uma câmara bastante questionável e problemática, especialmente em zonas fechadas ou contra inimigos gigantes a câmara provou-se um maior rival que estes monstros que Link e companhia enfrentam na campanha, o “Lock-on” incluído ajuda em certas zonas mas também prejudica noutras, nunca havendo uma altura que estivesse 100% satisfeito com a mesma. Em junção ao combate normal estão também presentes algumas missões onde controlamos as Divine Beasts de cada Champion, inicialmente gostei das mesmas mas rapidamente começaram a cansar e a ter mapas cada vez maiores que tornavam a sua navegação bastante lenta e pouco interessante, boa ideia mas a execução deixou a desejar.

Falando de missões secundárias, Age of Calamity utiliza um mapa mundo de Hyrule onde, à medida que progredimos, vão aparecendo novas missões e actividades extra, na sua maioria resumem-se a arenas extra e desafios com condições especificas mas também estão presentes algumas quests que envolvem colecção de materiais com pequenas histórias associadas, estas quests não são nada de incrível mas estes curtos excertos narrativos ajudam a dar vida a este mundo, um toque que até faz alguma diferença contribuindo para uma maior vivência do mundo e sensação de contributo. Tenho que notar no entanto que muitas dependem de algum grind e muitas vezes a recompensa não compensa o esforço, felizmente a maioria é relativamente simples e completamente opcionais. Neste mapa podemos também aceder a diversas lojas e serviços onde podemos por exemplo evoluir personagens com Rupees (a moeda usada em The Legend of Zelda) ou melhorar armas com diversas upgrades diferentes que ajudam o combate a ficar ainda mais variado.
A performance do jogo é algo que pode ser um problema para certas pessoas especialmente sendo o género Musou conhecido pelas suas framerates baixas, a performance nunca é verdadeiramente estável, digo já, mas na minha experiência a maioria das vezes não fui afectado pela framerate, ao contrário de outros Musous. Todavia os raros casos em que isto acontece são bastante irritantes, chegando por vezes a travar a imagem ou a ficar com tanto lag que se torna difícil de acompanhar o que se passa. Felizmente grande parte da experiência é sólida e pelo que pude testar no modo portátil o jogo tem menos quebras de fluidez que quando ligado à dock, contudo fica o aviso que pode variar de jogador para jogador.
Visualmente este jogo é o esperado, uma versão melhorada do que já se tinha observado em Breath of the Wild, não há muito a apontar, continua a ser um estilo “Cel-Shaded” conciso e bonito que se adequa às concept arts e resulta bastante bem, não havendo por isso razões de queixa nesse aspecto.
Em relação ao áudio e música, gostei bastante do que foi feito, na sua maioria a banda sonora consiste em remixes de músicas típicas de The Legend of Zelda, em especial de Breath of the Wild obviamente mas com um toque mais épico e virado para a acção para encaixar no tom de Age of Calamity.
O jogo tem imenso conteúdo, nas 38h que joguei fiz apenas 57% do que existe no mundo por fazer, contudo não considero este conteúdo tão importante ou substancial como desejava muito por culpa da já mencionada estrutura repetitiva e monótona.

Em suma, adorei “Hyrule Warriors: Age of Calamity” apesar dos seus vários problemas. É uma aventura memorável desta já antiga e importante série de jogos, a história faz um excelente trabalho e o combate é uma satisfação enorme com arestas por limar é certo mas ainda assim bastante divertido, tornando este jogo num grande aperitivo para os fãs de Zelda enquanto Breath of the Wild 2 não é lançado. Embora deixe o aviso que se estiverem reticentes recomendo esperarem por descida de preço pois apesar de ter gostado bastante do meu tempo com o jogo a estrutura é demasiado igual e o conteúdo baseia-se muito na repetição pelo que é algo arriscado se tiverem reservas quanto a Musous. Por estas razões irei atribuir a nota de 8 em 10 ao jogo.
Agradecemos à Nintendo pelo código dado, sem o qual esta análise não seria possível.
Hyrule Warriors: Age of Calamity no OpenCritic