Análise: Hollow Knight Voidheart Edition

“Hollow Knight: Voidheart edition” é inspirado nos clássicos 2D action side-scroller Metroid e Castlevania. O jogo segue de perto a essência destas [duas] experiências, enquanto oferece um mundo lindo e desafiante – com mais de 140 inimigos e 30 bosses; lindíssima arte 2D e animação frame-by-frame. Desenvolvido e publicado pela Team Cherry, à qual agradecemos pelo código deste jogo.


Um chamamento primordial encanta o pequeno protagonista, Hollow Knight,  para um nicho encarcerado no devastado reino de Hallownest. Para o alcançar, terão de enfrentar os inúmeros insectos que — dos mais inócuos rastejantes, ignorantes das vicissitudes do reino, os antigos habitantes consumidos pela/por uma infecção, ou dos ferozes louva-a-deuses, entre outros. O seu destino parece incerto, mas o caminho desenha-se pelas áreas/regiões interconectadas que exploramos, cujas passagens, por vezes, encontram-se bloqueadas, sugerindo ao jogador a necessidade de uma habilidade ou objecto para os ultrapassar – como é o ethos de um metroidvania. Para além de habilidades (Mantis Claw, Monarch Wings, entre outros) que permitem o pequeno cavaleiro cartografar o reino de Hallownest, também há charms – objectos que modificam o cavaleiro – que ajudam a adaptar consoante o inimigo(s) e/ou secção de plataforma.

Greenpath
Deepnest

É desta forma, que Hallownest se abre ao Hollow Knight, explorando, lutando e saltando. A nail – a nossa arma principal – juntamente com feitiços (Desolate dive, por exemplo, onde, depois de um salto, executamos uma descida forte que causa uma onda de explosão) que podemos apropriar, oferecem um combate tenso quando cada vida é crucial para sobreviver. O jogo consegue conjugar risco e recompensa de maneira a nos motivar para arriscar e tentar chegar ao próximo banco (que servem como checkpoints, espalhados pelas áreas) ou um item que queiram adquirir. No entanto, estas ambições são por vezes goradas, exigindo retiradas para segurança, que podem acabar num frustrante falhanço que significa perder o progresso como ainda o precioso geo (unidade monetária).  Porém, é nas árduas batalhas contra os bosses (e inimigos mais difíceis) que o combate brilha, acompanhado de uma memorável banda sonora, onde cada deslize é menos uma possibilidade de derrotar os ferozes adversários, decorando os padrões e sintonizá-los com os nossos saltos e golpes até finalmente, após cada repetição, reduzi-lo. Todos os inimigos, espinhos aguçados e águas ácidas, revelam perigos mortais para onerosa e difícil aventura do Hollow Knight, pelos cantos do reino que percorremos.

Knight and Quirrel
White Lady

De Dirtmouth, a pequena e abandonada aldeia que nos recebe em Hallownest, até Kingdom’s Edge, onde o corpo putrefacto de um colossal Wyrm, causa uma nevada perene sobre uma terra drenada do seu vigor, o reino e os seus habitantes – aliados e inimigos – descortinam levemente a história do decadente reino, seja visual, isto é, manifesta pela estética das áreas ou “escrita”, por conversas com outras criaturas ou escrituras em pedra. O reino arruinado de Hallownest fala connosco e alimenta-nos a fome de descoberta em todos cantos. É nos dado a conhecer a existência de uma infecção antiga que continua a alastrar-se sem causa aparente, e, simultaneamente, o desaparecimento de um rei que ascendeu à grandiosidade. Luz, sonhos, eternidade, vazio, sombra, ausência, lutam pelos resquícios do reino. Subtilmente e gradualmente, estes pequenos sussurros amontoam num trágico fado que se desvenda…

Sonhos e sombras

Hallownest é uma terra compósita, trabalhada com uma linguagem visual característica que facilmente destaca o jogo. Para além da importância narrativa que cada uma das suas áreas carrega, a estética que lembra um conto infantil consegue surpreender na diversidade da beleza do seu desenho. Nos decorados arranjos florais de Queen’s Gardens e o luxuoso Greenpath sobressaem o verde que domina o tom preto virtualmente omnipresente por Hallownest. A sombria e arrepiante atmosfera de Deepnest, coberta de centopeias e aracnídeos que emergem na densa escuridão, onde a lanterna que carregamos ao pescoço e os pequenos cogumelos luminosos são as únicas fontes de luz que nos guiam entre os ovos, as teias e as cascas; juntamente com a desolação de Kingdom’s Edge e a ausência em Ancient Basin, manifestam um contraste claro, com uma tonalidade pálida e negridão absoluta, respectivamente. A música de Christopher Larkin cimenta a linguagem visual das áreas, Kingdom’s Edge é uma composição evocativa das cinzas que caiem levemente sobre a terra, enquanto os corpos de guerreiros do coliseu decompõe-se. Dirtmouth, introduz uma melodia de piano que define imediatamente o tom taciturno da aldeia e os indícios de alguma vida sobre aquela terra. Os traços góticos da monumental City of Tears, antiga capital do reino de Hallownest, em que predominam o violeta e azul; e o escarlate para decorações nas casas, onde a chuva é perpétua e complementada por uma composição melancólica e saudosista. White Palace, tal como City of Tears, não esconde esse tom melancólico, num lugar do passado escondido num mundo de sonhos, em que o branco sobrepõe-se ao preto. Igualmente presentes estão composições bélicas como Mantis Lords e Radiance, que simulam a energia de uma intensa batalha, as cordas evocam movimento. The Grimm Troupe e Gods and Glory, são composições que exaltam o combate frenético e acompanham a intensidade das batalhas, contra os seus respectivos bosses (no caso de Godmaster, uma cadeia de bosses), com o peso nas cordas, nos coros e na percussão. A banda sonora assenta em cada momento e área, comunicando a intenção e a sensação dos mesmos, perfeitamente.

Uma luta contra o destino

Em conclusão, os erros que Hollow Knight comete, são poucos ou nenhuns, mesmo que o platforming do jogo se sinta frustrante em certas alturas pela exigência da sua precisão, e que o seu extenso mapa seja motivo para ser perderem e acharem-se sobrecarregados – para ser honesto, fui obrigado a verificar na wiki o local de uma habilidade e uma pale ore – o combate, a estética e a banda sonora elevam-no a uma experiência inesquecível e uma marca no género de Metroidvania, sendo uma fácil recomendação para fãs do género. Atribuo uma nota final de 9 em 10. (Nota: infelizmente, ainda não consegui finalizar o último dlc, Godmaster; assim lanço esta review incompleta)

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