Análise: “Wolfenstein II: The New Colossus”

Os Nazis dominam o mundo, a América está perdida e restam apenas alguns opositores ao regime ditador de Adolf Hitler. William “B.J.” Blazkowicz, o protagonista e um dos membros da facção opositora (o “Kreisau Circle“) é resgatado pelos seus colegas das portas da morte, após o seu violento combate com o General Deathshead, cujo evento faz parte do jogo anterior Wolfenstein: The New Order. Cabe a Blazkowicz fazer frente ao regime alemão e acabar com o tirania duma vez por todas.

Wolfenstein II: The New Colossus é uma sequela directa a Wolfenstein: The New Order, foi desenvolvido pela Machine Games e publicado pela Bethesda Softworks. Encontra-se actualmente disponível para PC, PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch. Esta análise foi realizada na versão para PC.

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O jogo retoma imediatamente a história de Blazkowicz após os eventos de The New Order, após o seu resgate, B.J. entra num coma durante 5 meses. Durante esse espaço de tempo, além de ser revelado que B.J. será pai de dois gémeos, podemos também mergulhar um pouco no seu passado e viver a pele de Blazkowicz como criança, frente a um pai abusivo e cruel, ao contrário da sua mãe amorosa, e perceber um pouco como cresceu o protagonista. B.J. acorda do coma perante uma invasão Nazi e é obrigado a combater os invasores numa cadeira de rodas conduzida apenas pela sua força de vontade e o desejo de ver os seus filhos crescer em liberdade. A primeira metade do jogo explora e foca-se bastante em B.J., com vários flashbacks à sua infância e constantes monólogos durante o gameplay, a excelente performance de Brian Bloom toma um partido importante na legitimidade do personagem e eleva-o a um patamar superior.

A narrativa mantém-se interessante durante a primeira parte do jogo, com as várias tentativas do protagonista para provocar o caos e desordem entre os vilões, a escrita é boa o suficiente para humanizá-lo apesar do diálogo um pouco mais fraco, por vezes um pouco paródico, ou exagerado, B.J. consegue ganhar a nossa afeição. Infelizmente o aspecto narrativo desce bastante na segunda metade do jogo. Desaparece a exploração do protagonista e aumenta a quantidade de diálogo medíocre. Não obstante, está sempre presente o charme cómico e um estilo único que Wolfenstein tem vindo a ganhar nas últimas entradas da franquia.

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Visualmente falando, Wolfenstein II consegue ter duas faces inversas. Os cenários e zonas estão bem trabalhados, misturando a arquitectura e estilo urbano dos anos 60 com um tom mecânico e futurístico. Representa bem a influência dos Nazis no mundo com o foco na ciência e tecnologia para dominá-lo. Devo louvar o uso de cores nos inimigos para conseguir contrastar com o panorama e facilitar a vida do jogador na identificação e eliminação dos mesmos. Ao contrário dos jogos em que os inimigos misturam-se tanto com o fundo que acaba por não se saber se estamos a disparar contra um soldado ou um objecto inanimado. Os próprios designs dos robôs antagonistas são interessantes e bem feitos, com pequenos mas importantes detalhes como a cor dos olhos mudar quando detectam o jogador ou certas peças destacarem-se para representar um ponto fraco. Infelizmente, há muitas zonas escuras que quase me obrigavam a aumentar o contraste do jogo para conseguir ver alguma coisa. O jogo em si é muito escuro, e isto nota-se nos níveis que se passam de noite.

O maior problema do visual do jogo, e o porquê de eu mencionar “faces inversas” são as pobres texturas. Nota-se demasiado quando nos aproximamos dos objectos, o que torna os visuais feios quando tomamos mais atenção aos nossos arredores. Acabando por tornar o jogo “bonito de longe, mas feio de perto”.

Não houve quaisquer problemas de performance no meu PC. Tive 60 fps constantes a 1080p em Max Settings (com algumas coisas um pouco reduzidas) num Ryzen 1300X e GTX 1060.

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Quanto ao gameplay, podem esperar o mesmo do que jogaram no The New Order e The Old Blood. Repleto de secções desenhadas para serem abordadas de forma mais silenciosa – neutralizando os inimigos um a um com uma pistola com silenciador, atirando um machado ou corpo-a-corpo – ou simplesmente usando todo o arsenal para pulverizar tudo o que se encontra no vosso caminho até chegar aos comandantes ou objectivo principal. Na segunda metade do jogo é até oferecido ao jogador uma escolha entre 3 engenhos para facilitar o playstyle que preferem. Sendo os níveis a partir daí desenhados com cada um desses engenhos em mente, e a forma que podemos usar o level design para o nosso proveito depende do que escolhemos, tornando cada walkthrough do jogo um pouco diferente. Infelizmente, nas dificuldades mais altas o jogo favorece muito mais o estilo stealth.

Wolfenstein II possui 7 dificuldades diferentes, sendo a última (“Mein Leben!“) igual à penúltima dificuldade (“I am death incarnate!“), a diferença sendo que em “Mein Leben!” o jogo acaba se o jogador morrer. Tendo jogado na antepenúltima dificuldade (“Call me Terror-Billy!“), o jogo queria obviamente que eu tomasse sempre uma aproximação silenciosa, os inimigos provocavam-me imenso dano quando me descobriam e morria muito rapidamente caso não estivesse coberto. Experimentei também jogar na 3ª dificuldade (“Bring ’em on!“) e na 4ª (“Do or die!“). Posso dizer que apesar da 4ª ser a mais equilibrada, achei a 3ª dificuldade melhor para quem gosta de uma aproximação mais bombástica e a 5ª (que foi qual usei na maior parte do jogo) melhor para um stealth playstyle. Todavia, jogar na 5ª dificuldade torna as situações onde stealth não é possível muito mais difíceis e um verdadeiro teste de paciência, após várias tentativas consegui completar duas dessas zonas fugindo para o objectivo, em vez de combater, uma das quais poderiam até considerar o “boss final”.

Aliado ao bom level design, temos um bom gunplay. Todas as armas são diferentes, podendo o jogador melhorá-las através de Upgrade Kits espalhados através dos níveis. Todos os melhoramentos de armas custam apenas um kit e estão todos disponíveis para desbloquear desde o início, dando hipótese ao jogador de melhorar as armas que prefere usar e escolher o que acha que se adapta melhor ao seu estilo de jogo. Um dos meus primeiros upgrades foi o silenciador da pistola, já que eu jogava furtivamente na maioria dos níveis. Depois foquei os upgrades na “Sturmgewehr” (o equivalente a uma Assault Rifle) para os momentos onde o Stealth não é uma opção.

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Após completarem a história principal, é mencionado pelo jogo que têm de assassinar os restantes generais nazi para desbloquear um final secreto. Para poderem assassinar os generais têm de desbloquear as suas localizações através da “enigma machine” na base. Para usar a máquina e desvendar as localizações têm de usar enigma codes, estes códigos são encontrados em comandantes que o B.J. assassina durante o jogo. Tal como nos jogos anteriores, os comandantes chamam reforços caso o jogador seja encontrado pelo inimigo e apenas param quando são mortos. Mesmo que o jogador coleccione todos os enigma codes que encontre não terá suficiente para desbloquear todos os generais, já que alguns requerem 6 e 7 códigos duma vez. Vi-me obrigado a repetir o menor nível do jogo meia dúzia de vezes para ter códigos que cheguem. Quando por fim completei todos os níveis com a pouca vontade que me restava (já que são todos repetições do que foi feito na história principal) tive acesso ao último general (que me custou mais 8 códigos para desbloquear). O último general está presente numa zona completamente nova e não usada no jogo, no subsolo, repleto de escuridão onde apenas nos conseguimos guiar com a pequena luz da lanterna, não só é um pequeno labirinto habitado por robôs como posso dizer com quase a certeza que é um nível inacabado que foi cortado do jogo principal. Após encontrar a luz ao fundo do túnel e surgir numa praia face a uma caída estátua da liberdade encontrei o general acompanhado dum robô igual ao “boss final” do jogo. Não sei se o jogo queria que eu derrotasse o robô para conseguir alcançar o general, porque eu apenas o matei à distância com a pistola e acabei o nível. Que para desilusão minha, não desbloqueou nenhum final secreto que concluísse ou nos explicasse melhor o que acontece no epílogo de Wolfenstein II. Sem uma compensação pelo trabalho que tive, senti que foi apenas uma perda de tempo.

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Wolfenstein II acabou por ser uma boa experiência com algumas nódoas que não consegui ignorar. O gameplay base é muito divertido, a narrativa tem charme, e a música de Mick Gordon é excelente. Mas o post-game preguiçoso, o mau equilíbrio nas dificuldades (e demasiada escolha) e o 2º acto narrativamente pobre em relação ao primeiro deixaram-me um sabor amargo na boca. Tendo tudo isto em conta, decido dar uma pontuação de 7 em 10 a The New Colossus, o jogo encontra-se disponível a 59.99€ em todas as plataformas, aconselho a compra a quem gosta de FPS para um jogador, sobretudo em saldo.

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