Análise – The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom

Lançado em 2017, “The Legend of Zelda: Breath of the Wild” foi um estrondoso sucesso critico e comercial, tendo sido sucedido por um “spin-off” no género Musou (“Hyrule Warriors: Age of Calamity”) e agora por fim uma sequela direta.

Pessoalmente, não gostei muito do antecessor deste jogo, achei-o bastante aborrecido e vago em excesso com os objetivos, que por sua vez levaram a uma narrativa quase inexistente, algo que me desiludiu, sendo que fui para o seu spin-off com baixas expetativas quando o analisei, tendo ficado surpreendido com o quanto gostei do jogo e em especial da sua narrativa, de uma forma que assim que o acabei decidi finalmente terminar “The Legend of Zelda: Breath of the Wild”, e embora a opinião se tenha mantido pelo menos pude finalmente dizer que o tinha acabado, e assim pensei que tinha terminado a minha jornada por esta pequena série numa franquia tão vasta…Mas cá estamos para falar do segundo jogo principal.

Narrativamente, “The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom” passa-se cerca de 10 anos após o anterior e começa com Link e Zelda a explorar as catacumbas do castelo de Hyrule para descobrir a origem do “Gloom” que anda a afligir a população e pôr pessoas doentes.

É nesse local que se deparam com ruínas de uma civilização ancestral: os Zonai. E são atacados por Ganondorf que se mantinha selado numa câmara interior destas catacumbas, acabando Link por ficar bastante ferido e Zelda desaparece sem deixar rasto.
No geral a narrativa é muito boa, longe vão os tempos em que tínhamos uma cinemática ou progressão narrativa a cada 10 horas e às vezes até mais, aqui senti que a história estava numa quantidade adequada e o seu ritmo continua nas mãos do jogador pois muitas das cinemáticas requerem ser encontradas, sendo o jogador que as decide quando ver e quase todas elas acabam por ser mais relevantes à trama geral que as memórias do jogo anterior, pois além de contexto ao passado de Hyrule algumas também revelam detalhes importantes para a jornada de Link no presente.

Ao nível das personagens, Zelda, Ganondorf e Rauru, o primeiro rei de Hyrule são os grandes destaques, tendo uma boa caracterização e bons momentos ao longo da narrativa, porém continuo desiludido com Link, consigo compreender que não lhe queiram dar uma voz, mas a sua estoicidade excessiva denigre certos momentos, tal como já acontecia no “spin-off“, sinto que a Nintendo devia repensar a sua abordagem a esta personagem porque sinto que já não resulta.

Visualmente falando, apesar de ser um jogo da Switch a direção artística deste jogo suplanta qualquer problema técnico, é mesmo bonito, desde as inúmeras paisagens aos modelos das personagens denota-se um trabalho que a esta escala na consola só é rivalizado por “Xenoblade Chronicles”.
Porém convém realçar que encontrei algumas quebras de fluidez, nomeadamente quando ativava a “Ultrahand” e algumas lutas nas partes mais tardias do jogo, ainda assim é impressionante o jogo correr tão bem no estado atual e especialmente ter tão poucos bugs dada a sua escala, em 130 horas apanhei menos que uma mão cheia deles.

Ao nível da banda sonora, não fui o maior fã das músicas minimalistas do antecessor, achei que deixavam o jogo mais insípido, algo que corrigiram com “Hyrule Warriors: Age of Calamity”, onde temos alguns dos melhores arranjos desta franquia e sendo mais bombástico que o antecessor.

Folgo em dizer que neste jogo o que a equipa de compositores (Manaka Kataoka, Maasa Miyoshi, Masato Ohashi, Tsukasa Usui) melhor faz é juntar o melhor dos dois mundos, pois embora ainda tenhamos um lado minimalista, a ele junta-se uma faceta mais bombástica espetacular, onde realço em especial o tema da luta final com Ganondorf e o tema do Mestre Kohga.

Ao nível da jogabilidade, embora se mantenha em linha com o anterior as novas introduções são simplesmente deliciosas.
Para começar temos a “Ultrahand”, uma habilidade que permite a Link pegar nos mais variados objetos, rodá-los e até mesmo colá-los a outros para desta forma construir as mais variadíssimas coisas que o permitem superar os diversos puzzles que vamos encontrando pelo mundo. Verdade seja dita podíamos ter tido um jogo todo ele com base nesta mecânica, mas ainda temos mais 3 para falar, como “Fuse” que é incrível, pois permite fundir quase tudo o que queremos com as nossas armas, não só colmatando o problema de durabilidade das mesmas como também dando uma variedade maior ao combate pois certas fusões concedem propriedades especiais ao arsenal de Link, tornando-as ideias tanto para situações mais especificas como para a generalidade dos confrontos.

E deixei as minhas duas favoritas para o fim: “Ascend” e “Recall”, que devem ser das melhores coisas que já usei num videojogo quando aplicadas em conjunto, “Ascend” permite a Link subir verticalmente por qualquer superfície que fique acima dele desde que o chão seja estável, o que nos permite passar certos momentos de escalada e torna-se bastante satisfatório. Já “Recall”, tal como o nome indica, permite que voltemos o tempo atrás num objeto especifico para o retomar à posição inicial, e isto é muito útil, pois podemos pegar numa placa de madeira com a “Ultrahand”, movê-la até ao limite na horizontal e trazê-la de volta, ativar o “Recall” e o “Ascend” em rápida sequência, permitindo Link subir para a placa de madeira enquanto ela se move para a frente e assim dessa forma ultrapassar por exemplo uma fossa no chão, as possibilidades são gigantescas e não dá mesmo para explicar sem o ter experiênciado.

E é exatamente estas possibilidades que tornam o jogo tão divertido, pois além destas habilidades Link tem também acesso a inúmeros aparelhos Zonai que quando conectados nos permitem criar desde “Hoverbikes” a carros de carga, neste jogo o que reina acima de tudo é a criatividade do jogador e o que o mesmo é capaz de fazer com as ferramentas concedidas pelo jogo, sendo um deleite descobrir estas coisas à medida que progredimos na nossa jornada.

Falando em jornada, além de Hyrule, desta vez Link tem acesso ao céu e às profundezas, dois biomas completamente distintos do habitual que resultam bastante bem, sendo o céu mais focado em verticalidade e a forma como exploramos essas zonas é inerentemente diferente das restantes pois não podemos simplesmente caminhar até um sitio, sendo necessário desbloquearmos as diferentes torres no mapa para nos projetarem pelo ar até as alcançarmos e mesmo assim por vezes temos de fazer algo adicional para visitarmos as ilhas em maior altitude, sendo bastante divertido embora denote que fiquei ligeiramente desiludido algumas destas ilhas se resumirem a um cofre e pouco mais.

Já as profundezas, inicialmente não gostava nada delas, eram demasiado grandes e aborrecidas, mas assim que construi uma “Hoverbike” a minha opinião mudou por completo, adorei cada segundo que voei por elas a colecionar minerais para melhorar a bateria dos aparelhos Zonai e a encontrar as inúmeras “Lightroots” que iluminam pouco a pouco esta região tão sombria.

Por fim, Hyrule mantém-se bastante semelhante ao jogo anterior, porém as novas adições e missões melhor trabalhadas tornam esta região muito mais divertida e satisfatória de se explorar, desde “Shrines” extremamente divertidos onde o único limite é a nossa criatividade a “Dragon Tears” que nos dão mais contexto da narrativa e são sempre muito divertidas de se encontrar, o que não falta neste jogo é conteúdo, tanto que em 130 horas a minha taxa de completação ficou-se pelos 55%.
Porém realço que perto das 100 horas me comecei a cansar um pouco com tanta exploração, o que é natural dada a natureza vasta do jogo, tendo sido tantas distrações pelo mapa um pouco prejudiciais à minha experiência, tendo feito as missões finais todas de seguida cansou-me um pouco, mesmo assim não me arrependo de o ter feito, é de longe dos melhores mundos abertos num videojogo.

De volta estão também as tradicionais “Dungeons” que os fãs tanto sentiram falta no antecessor, e embora ainda não estejam ao nível das melhores da franquia gostei bastante de todas de uma forma ou de outra, os puzzles são divertidos e as lutas com bosses têm alguns confrontos giros.

Ao nível do combate, permanece quase idêntico ao anterior, mas a mecânica das armas fundidas torna o combate muito mais divertido e menos focado nas armas se quebrarem constantemente, longe vão os tempos que tinha receio de enfrentar um grupo de inimigos, neste jogo semeei o terror pelos imensos tipos de inimigo espalhados por Hyrule e restantes biomas.
No entanto, o grande problema do combate é a mecânica dos “Sages”(aliados que se unem a Link ao longo da história e o auxiliam em combate), em que podemos ativar as diferentes habilidades do que estiver mais próximo de Link, o problema é que isto é altamente impreciso e raramente obtive a habilidade pretendida, pois a AI deles ou foge de Link ou agrupam-se todos e não dá para escolher o que queremos, sinto que esta mecânica funcionaria muito melhor com uma barra ou um conjunto de botões que as separasse.

Em suma, “The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom” arrebatou-me por completo, sendo altamente recomendado a qualquer fã do anterior e honestamente qualquer pessoa que esteja curiosa em o jogar, pelo que lhe atribuo a nota de 10/10.

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