Análise – Final Fantasy XVI

“Final Fantasy” é certamente uma das franquias mais icónicas de toda a indústria dos videojogos e, agora após 7 anos desde “Final Fantasy XV” regressa com um novo jogo numerado, desenvolvido pela equipa responsável por “Final Fantasy XIV” e com o objetivo de introduzir uma vertente “Hack and Slash” frenético e se afastar um pouco mais das suas raízes no género RPG.

Narrativamente, este jogo está muito bem conseguido, tendo tanto uma vertente mais política e conflituosa entre os vários reinos, como também ao longo da trama vai adicionando mais elementos fantasiosos mais semelhantes a passados jogos na franquia.

A narrativa conta a história de Clive Rosfield, um homem que numa dada noite 13 anos no passado se depara com uma tragédia que culmina na morte do seu pai e do seu irmão, Joshua, acabando Clive por viver e seguir um rumo de vingança para encontrar e matar o responsável por tudo isto.

No geral gostei da narrativa, especialmente da forma como abordaram as diferentes personagens e as relações entre os diferentes reinos de Valisthea, havendo ainda algumas missões secundárias que aprofundam imenso as relações entre Clive e os mais variados personagens com o qual se depara na sua jornada, sendo algumas tão importantes que sinto que deviam ter trocado de lugares com algumas das piores missões principais que pouco ou nada adicionam.

Destaco também a estrondosa atuação de Ben Starr no papel de Clive, possivelmente uma das melhores em todo o género RPG, sinto que esta atuação vai ser sem dúvida o ponto mais consensual do jogo nos próximos anos pois Ben dá o corpo e a alma a Clive de uma forma que se sente toda a emoção da personagem na perfeição.

Ao nível visual este jogo é um misto, por um lado os modelos das personagens e alguns locais são estonteantes, por outro certas partes parecem saídas da geração da PS3, algo amplificado pelo modo performance que corre basicamente a 720p, especialmente nos combates acabando por ser um jogo bastante insípido visualmente e ainda por cima esse modo performance raramente se mantém perto do alvo de 60fps, sinto que o jogo necessitava de mais algum tempo para ser polido, porque no estado atual a performance é inconsistente, não tanto como um “Star Wars Jedi: Survivor”, mas o suficiente para se tornar aparente e incomodar um pouco em certas sequências.

Já a banda sonora, composta por Masayoshi Soken, é simplesmente fantástica, sem dúvida das melhores deste ano, concedendo a grande parte das lutas deste jogo uma vertente épica e divina com uma excecional utilização da orquestra e coros, em especial “Find the Flame” que considero que vá ser relembrada por muitos anos, podendo algumas das músicas do jogo ser ouvidas aqui.

Ao nível da jogabilidade, este jogo abandona mais uma vez os combates por turnos como fez o seu antecessor direto e aposta ainda mais na ação, assemelhando-se mais a um “Devil May Cry” ou “Bayonetta” que os restantes jogos da franquia, possuindo um combate extremamente satisfatório e com ritmo acelerado, que implica desvios sucessivos e contra-ataques durante as pequenas aberturas deixadas pelos inimigos.

Clive durante os combates tem acesso a um só combo que pode ser modificado alternando ritmicamente entre quadrado e triângulo, sendo este um combo satisfatório de se efetuar e alternar com as diferentes habilidades dos “Eikon” que Clive possui, sendo possível equipar 3 em simultâneo, cada um com 2 habilidades distintas, totalizado 6 habilidades ao dispor de Clive a qualquer momento e todas elas com usos distintos, sendo não só divertidas como adicionam variedade aos combates, havendo algumas especializadas em contra atacar, outras em defesa e assim sucessivamente. Teria preferido se pudesse equipar mais por “Eikon” mas fiquei satisfeito ainda assim com esta mecânica.

Os combates com bosses são absolutamente inacreditáveis, alguns deles figuram nos melhores que já enfrentei até hoje, misturando na perfeição o combate e o espetáculo, sendo não só épicas como também extremamente divertidas, muito por culpa da barra de “Stagger” que regressa de “Final Fantasy VII Remake” e continua bastante gratificante otimizar ao máximo o dano feito nestes momentos em que ela se esgota e o inimigo fica parado durante uns 10 segundos.
Porém é também aqui nestas lutas que aparece o maior problema da jogabilidade para mim, tal como “Bayonetta 3” a claridade visual é horrenda, muitas vezes sendo os bosses obstruídos por todas as partículas no ecrã, algo dificultado não só pela resolução baixa como também pelo desvio que ao contrário de outros jogos no género assim que clicamos no botão ficamos cerca de 2 segundos presos na animação, sendo bastante castigador falhar um desvio, algo frustrante em lutas contra bosses humanos porque muitas vezes simplesmente não os conseguimos ver a atacar, honestamente gostava que tivesse sido oferecido um modo performance que reduzisse muitas das partículas.

Depois de passar o jogo, é desbloqueado um novo modo, o “Final Fantasy Mode” que é um “New Game+” que promete imensas mudanças, nomeadamente no que toca aos inimigos e a capacidade de subir para nível 100, algo que me deixou entusiasmado porque esperava alguns novos ataques em certos bosses e algumas lutas extra que justificassem isto, mas a realidade foi desapontante, basicamente este modo adiciona uma nova arma, um ou outro miniboss numa luta normal e pouco mais, sendo os bosses exatamente iguais apenas fazendo mais dano.

O jogo segue uma estrutura relativamente linear, possuindo um mapa mundo em vez de um mundo aberto e a maioria das áreas que eventualmente exploramos são relativamente contidas, o que não seria um problema porque dado o maior foco na ação não me importo que tenham afastado o foco da escala e mundos grandes, mas depois temos áreas secretas e baús espalhados por este mundo que pouco ou nada oferecem sendo a exploração não só evitável como o jogo não a parece recompensar de todo, aliás encontrei melhor equipamento nos baús postos mesmo em frente de zonas com bosses que aqueles que encontrei ao ir para uma área secreta no meio de uma das maiores regiões exploráveis.

Outra parte onde o jogo falha é no equipamento, basicamente todas as peças de equipamento se resumem a stats puras, sendo inconsequentes e à medida que progredimos esses valores vão ficando cada vez menos importantes, havendo apenas um item no jogo inteiro que altera substancialmente a jogabilidade e mesmo esse é absurdamente fácil de se obter.

Além destas regiões temos também imensas missões secundárias, muitas delas no entanto resumem-se a recados para apanhar quantidade x de cada item e pouco mais, mas as que são boas destacam-se imenso porque aprofundam de forma substancial a relação de Clive com as personagens em seu redor, algo que apreciei bastante mas se torna mais bizarro quando temos missões principais que conseguem ser ainda mais aborrecidas e baseadas em meros recados que algumas destas missões secundárias, sendo este ritmo de progressão do jogo absurdamente lento ainda mais notório no “Final Fantasy Mode”, porque temos 30-60 minutos de combate e depois passamos a 2-3h de recados e passeios por um mundo que pouco ou nada recompensa a sua exploração.

Sinto que o jogo começou não sendo um RPG e depois numa fase muito tardia do desenvolvimento tiveram de forçar alguns desses elementos para tentar agradar à maioria dos fãs e o resultado é um jogo que beneficiaria de ser muito mais um jogo de ação pura que tentar forçar elementos RPG que além de inconsequentes arrastam o jogo por completo, com missões principais e secundárias aborrecidas onde estamos a fazer recados em vez de avançar a narrativa de forma fulcral ao fim de cada missão de combate, o que em vez de arrefecer só o ritmo como era suposta acaba por arrastar toda a progressão e entusiasmo do jogador.
E o “Final Fantasy Mode” apesar de uma boa ideia no papel inflaciona estes problemas, especialmente porque por esta altura o combate já começa a estagnar então ambas as vertentes do jogo começam a ficar mais cansativas, destacando-se ainda mais estas partes lentas.

Ao nível do Dualsense, este jogo usa todas as suas capacidades de forma agradável e eficaz, embora se tenha tornado algo cansativo abrir portas mantendo premido o gatilho adaptativo ao fim de umas horas, ainda assim fiquei satisfeito com a sua utilização.

Em suma, “Final Fantasy XVI” é um bom jogo, mas poderia ter sido muito mais se tivesse abdicado ainda mais dos elementos RPG que acabam por parecer mais forçados que algo natural, ainda assim foi uma experiência agradável pelo seu combate e narrativa pelo que lhe atribuo um 7.5/10.

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