Análise – Marvel’s Spider-Man 2

Depois de um sucesso estrondoso em 2018 com “Marvel’s Spider-Man” e em 2020, no lançamento da PS5, com “Marvel’s Spider-Man: Miles Morales”, a Insomniac regressa com a altamente aguardada sequela que promete introduzir ameaças à altura da existência de 2 Spider-Men em simultâneo.

Um ano depois dos eventos de Miles Morales, Miles e Peter cimentam-se como os dois protetores de Nova Iorque e logo no início desta história são enfrentados com uma sequência bombástica que puxa do seu fantástico trabalho de equipa.
No entanto com a introdução de novas caras, nomeadamente Harry Osborn e Kraven, as personagens deparam-se com novos obstáculos e os maiores perigos que confrontaram até agora, tanto na sua vida pessoal, como na posição de super-heróis.

No geral, gostei bastante da história, especialmente da reta final que está repleta de ação e emoções, dando ainda mais desenvolvimento aos dois protagonistas, mas também a algumas outras personagens como Norman Osborn e o seu filho Harry, sendo interessante ver como as relações das diversas personagens evoluem ao longo da trama, a performance dos atores como o Yuri Lowenthal e Nadji Jeter no papel dos protagonistas é excelente e ajuda imenso a realçar o lado humano dos nossos heróis durante os seus momentos mais difíceis, e o resto do elenco, desde o Jim Pirri como Kraven ao Graham Phillips como Harry sobe à altura dos seus colegas. Apesar disso algumas partes parecem ligeiramente apressadas, não obstante um excelente trabalho por parte da Insomniac neste quesito.

Como já é habitual nos jogos da Sony é nos dada a opção de jogar em Português e o trabalho aqui está fenomenal na maior parte, nomeadamente os protagonistas(Tiago Teotónio Pereira como Peter e Alexandre Carvalho como Miles) e Harry, interpretado por Miguel Raposo, são irrepreensíveis no seu papel e mesmo outras personagens do elenco estão a um nível competente, sendo uma opção legitima para quem estiver curioso com esta versão.
Denoto também que é o primeiro jogo a usar linguagem neutra na sua tradução para se referir a personagens não binárias, um esforço que apreciei terem feito.

No entanto devo ressalvar que atualmente, à data que escrevo esta análise, há um bug que faz com que duas cinemáticas em específico mudem a língua do seu áudio, uma para Inglês e outra para Português do Brasil, algo bizarro que me acabou por distrair imenso.

Ao nível visual o jogo é excelente, mas tem algumas arestas por limar, nomeadamente a qualidade das personagens secundárias ou no cenário em certas missões em que jogamos com Peter ou Miles vestidos a civil deixam a desejar, acabando por estragar um pouco a apresentação do jogo que é de resto magnifica, nomeadamente nas cinemáticas principais onde se nota que a equipa foi a fundo para as tornar os mais impressionantes quanto possível. Nova Iorque é incrível como seria de esperar e há imensos detalhes para encontrar, mas realço os vários pormenores de zonas interiores que visitamos durante a história principal ou missões secundárias: a definição dos modelos, a qualidade das texturas e a iluminação colmatam em áreas deslumbrantes que até dão alguma pena de não as podermos revisitar pois estão mesmo muito bem executadas.

Ao começar o jogo são nos dadas 2 opções de desempenho: Fidelidade (4K a 30fps) e Performance (Entre 1080 e 1440p a 60fps), possuindo ambos “Ray-Tracing”, pelo que ficam bem servidos com qualquer um deles nesse aspeto. Pessoalmente joguei no modo Performance e não tive problemas tirando ocasionais detalhes no cenário distraírem um pouco com a baixa qualidade, mas nada que afete a experiência.

A banda sonora, composta mais uma vez por John Paesano é excelente, dando um tom adequado a qualquer uma das cenas deste jogo, desde das mais épicas às mais emocionais, podendo ser ouvida aqui.

A jogabilidade deste jogo é, tal como se esperava, muito semelhante aos seus antecessores, no entanto com muitas novidades que a tornam mais dinâmica, nomeadamente a introdução de asas de teias que permitem aos protagonistas esvoaçar pela cidade a altas velocidades, acopladas ao baloiçar dos anteriores jogos permitem chegar a velocidades estonteantes que tornam viajar para qualquer ponto da cidade não só extremamente divertido como prático e rápido também.

O combate também viu algumas melhorias, desde logo a introdução de 4 ataques especiais que fazem com que Peter tenha acesso a habilidades semelhantes aos poderes elétricos de Miles de forma a dar uma maior paridade entre personagens, mas cada uma com o seu estilo e utilidade de ataque distinta.

No entanto, com este sistema a Insomniac também limitou as engenhocas para 4, o que não seria muito mau num vácuo, mas em comparação com o anterior jogo sinto que tirando o íman de teias que junta os inimigos todos num único sítio, todos os outros são demasiado fracos ou não têm grande impacto na jogabilidade, sendo um pouco maçador ver esta restrição no número e na utilidade dos mesmos em comparação com os anteriores jogos.

Este problema das engenhocas acaba também por afetar um pouco as cenas furtivas, pois apesar de terem adicionado uma forma de montarmos cordas em volta de cada arena para maximizar a nossa mobilidade acabaram por tornar as sequências mais repetitivas porque já não podemos por exemplo colocar armadilhas em objetos para derrotar inimigos furtivamente, tendo de depender de ataques escondidos apenas, o que é muito limitante e começa a cansar ao fim de umas horas.

O “parry” foi outro elemento adicionado ao combate, e é bastante satisfatório e útil de se utilizar mas ao mesmo tempo sinto que não foi a melhor ideia, pois isto levou ao acréscimo de novos ataques por parte dos inimigos, que ou podem ser rechaçados ou desviados, e isso acaba por afetar um pouco o combate pois nas dificuldades mais altas os inimigos por vezes misturam ambos os tipos de ataque, o que leva a que mesmo que lidemos com um, o outro nos acerte pois o timing para lidarmos com estes golpes é estranhamente restrito ao nível do “parry”, acabando por ser uma mecânica inferior ao desvio habitual.

Um aspeto que melhorou bastante em relação aos anteriores jogos foram, no entanto, os bosses que desta vez são lutas de várias fases, extremamente épicas e com alguma complexidade mecânica em certos casos, sendo bastante satisfatórias e divertidas, nomeadamente as mais tardias em que o jogo começa a fazer os seus ataques mais imprevisíveis.

Como já é habitual nos jogos desta geração, o jogo utiliza por completo as funcionalidades do Dualsense, sendo o Haptic Feedback o seu maior trunfo sem dúvida, especialmente quando estamos na posse do simbiote, os golpes têm um impacto adicional tão satisfatório que nos faz sentir a brutalidade de cada murro dado por Peter, é sem dúvida dos jogos que melhor utiliza o comando até hoje.

O mundo desta vez tem o dobro do tamanho dos anteriores jogos e apreciei as novas localizações, embora seja um pouco bizarro apenas parte dessas ilhas estarem disponíveis, tendo uns muros invisíveis estranhos, ainda assim há muito que fazer nas localizações efetivamente disponíveis e ao contrário dos antecessores assim que acabei de fazer o 100% fiquei com vontade de continuar a jogar, as missões secundárias são bastante boas e as atividades adicionais não são tão maçadoras, tornando este jogo uma experiência puramente divertida de 20 a 25 horas completamente livre de fadiga ou checklists irritantes.

Em suma, “Marvel’s Spider-Man 2” é um jogo incrível e digno dos seus antecessores que vos vai deixar a pedir por mais, é uma recomendação fácil, mas certos problemas impedem-no de atingir o seu verdadeiro potencial, pelo que lhe atribuo um 8.5/10.

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