Starfield – Análise

O “próximo grande RPG da Bethesda” foi lançado no passado dia 6 de setembro para Xbox e PC e deu muito que falar – e discutir – nos círculos de videojogos. Starfield foi recebido pela crítica e fãs com sucesso, ainda que sem imunidade a uma boa quantidade de críticas.

Eu, imagino que como muitos colegas, ainda estava perdido pelo inacreditável Baldur’s Gate III quando o Starfield teve o seu acesso antecipado para os compradores da edição “DIGITAL PREMIUM” (ainda se executam estas práticas de lançar o jogo mais cedo para quem paga mais, a sério?). Confesso, tinha mais curiosidade em relação ao Starfield do que interesse propriamente dito. Tendo em conta o que lia online, não estava na mesma página que os jogadores que esperavam o novo RPG revolucionário do senhor Todd Howard e, por moderação das expectativas ou talvez preconceito meu, tinha a minha razão. Starfield não só não é o RPG revolucionário que podiam ter desejado, como conseguiu desiludir-me onde eu talvez menos esperasse.

Ainda não consegui encontrar uma frase que melhor resuma o Starfield que “É um jogo da Bethesda no espaço”. Quem nunca pegou num jogo do estúdio pode achar a declaração obtusa, mas estou confiante que o pessoal experiente nos Elder Scrolls e Fallouts percebe perfeitamente o que estou a dizer: Starfield, embora uma nova IP, é uma aposta segura, segura demais para o meu gosto.

Começamos por criar o nosso personagem (eu nunca tive jeito para criar personagens visualmente interessantes, contudo vi o talento de alguns jogadores nas redes sociais e fiquei espantado – desde personagens iguais ao Willem Dafoe, até ao próprio Todd Howard, há muita versatilidade no Character Creator) e vamos parar a uma empresa de mineração, no nosso suposto primeiro dia de trabalho noutro planeta, até que descobrimos um artefacto misterioso que nos oferece visões estranhas. Tudo isto nos leva a conhecer Barrett e o seu grupo: Constellation, focados na exploração do espaço e dos seus mistérios, que andam à caça destes bizarros artefactos que claramente estão ligados a algo maior. Quer queiram quer não, agora fazem parte do grupo e devem procurar mais artefactos e desvendar o que estes escondem. Ao longo do vosso percurso vão encontrar novos colegas e companheiros que podem levar convosco para explorar, ou, mais tarde, atribuí-los a funções na nave e/ou outposts que criem.

Enquanto que o enredo principal de Starfield é em si pouco interessante, apesar de alguns bom momentos, não é obrigatoriamente algo que procure neste tipo de jogo. A minha primeira queixa é antes apontada às personagens: a sua caracterização é fraca e não houve nenhuma personagem interessante ao longo de toda a campanha. O Barrett tem algum charme, mas fora ele só estão lá para mandar umas bocas em conversas, serem inúteis durante o combate e oferecerem um item de vez em quando. Imaginem passar de companheiros como a Shadowheart, a Karlach ou o Wyll no Baldur’s Gate III, todos com histórias desenvolvidas, personalidades humanas e cativantes, para um pedaço de papelão falante como a Sarah Morgan. É desapontante, e a escrita insípida do jogo não ajuda. Na maior parte das vezes, a opção de diálogo cómica era a que chamava mais à atenção pelo simples facto de não ser tão seca como as outras. É talvez um problema que já vem do Fallout 4, que pouco joguei, mas do qual ouvi queixas constantes por parte da comunidade.

Narrativa boa ou má, é pouco importante, porque o foco e onde a Bethesda brilha é na exploração. Alcança as minhas expectativas? Sim, no que toca a quantidade o jogo é astronómico e não faltam cantos e recantos para vasculhar. Garanto-vos que se saltarem para um sistema solar aleatório vão encontrar um ou dois planetas com algo para explorar. O que encontrarem nem sempre é interessante, às vezes é só um refúgio com meia dúzia de piratas, outras vezes podem mesmo receber uma chamada ou encontrar algo que se desenrola em toda uma nova jornada. Ao andar por uma cidade podem ouvir a conversa entre NPCs e gatilhar uma nova quest, outras vezes são mais condicionais. Um exemplo que tenho (e acho que esta é fácil de encontrar) foi quando, depois de roubar um item numa certa quest, fui apanhado pela segurança com mercadoria roubada na minha nave, fui para a prisão, e aí foi me dada uma tarefa em troca de liberdade: infiltrar um gangue de piratas como um informante. Não sei se esta quest estava predeterminada desde o início, ou se aconteceu como consequência das minhas escolhas e acções até lá, mas não deixa de ter uma sensação genuína.

Ainda assim, embora a exploração em si alcance as expectativas, há aqui uma desilusão que deixa uma mancha enorme na experiência geral. Toda esta exploração, este salto entre galáxias, sistemas solares, planetas, até zonas terrestres, está repleto de loading screens, cutscenes e interrupções que não só impactam a imersão e sensação de continuidade do jogador, como derrotam por completo um dos selling points do jogo: a sensação de escala. Starfield é vendido como um jogo colossal, centenas de planetas, milhares de zonas, tudo para explorarmos, e no entanto, passamos a maior parte do tempo no menu a fazer fast travel de um planeta para o outro. Não podemos fisicamente descolar a nave dum planeta para o espaço, ao contrário da comparação mais óbvia: No Man’s Sky. Querem navegar para outro planeta? Têm de abrir o mapa, fazer fast travel e ver a cutscene da vossa nave a voar pelo espaço. Querem deslocar-se para outro lado do mesmo planeta? Fast travel. Mudar de distrito? Fast travel. Quando não há esta perceção do movimento, ou uma ilusão de transversalidade, a sensação de escala é esmagada, e resta apenas um selecionador de zonas no menu que, a meu ver, pouco é diferente de algo como o Mass Effect, onde escolhiam no mapa de planetas pré-determinados onde queriam aterrar. A nave até tem um tanque de combustível que determina o quão longe podem viajar, mas depois o tanque é enchido automaticamente no final do fast travel? Qual era o propósito disto? Foi uma mecânica que acabou por ser cancelada a meio do desenvolvimento? Estranho.

Não obstante, conteúdo e variedade não falta. O combate é competente e há muitas armas diferentes para usarem. Felizmente não senti que (a maior parte) os inimigos fossem esponjas de dano, ainda que partilhem o mesmo nível de inteligência de uma esponja real. Há certas habilidades que podem desbloquear que irão tornar o combate um pouquinho mais divertido. E claro, podem desenvolver a vossa personagem ao vosso gosto com a skill tree do jogo. Fiquei surpreendido com algumas das habilidades que estão bloqueadas pela skill tree, são funções que esperaria ter logo de início no jogo, mas não apontaria isto como um negativo.

Adorei a construção da nave! Dá para fazer todo o tipo de coisas naquilo, vi pessoal a imitar naves espaciais do Star Wars, vi um camião gigante com 440000 de espaço para carga (sim, é muito), e eu próprio, que costumo ser mau a construir este tipo de coisas, fiz uma nave de que me orgulho. O sistema pode ser um pouco assustador ao início, com a quantidade de peças que há, mas se perderem algum tempo lá, acabam por se aperceber que até é simples e intuitivo. Não posso dizer o mesmo da construção de outposts, e acabei por não perder muito tempo lá porque ter um outpost num planeta qualquer que talvez nem vás visitar mais pareceu-me um pouco perda de tempo.

Visualmente, é um jogo impressionante, modelos de personagens e expressões faciais à parte. Não só tem localizações bonitas, como há uma boa quantidade de narrativa visual no Starfield. Vejamos a primeira metrópole que visitamos: New Atlantis. A cidade recebe-vos com uma vista extraordinária, os arranha-céus modernos contrastam com o céu azul e refletem a luz do sol, as ruas limpas são deslumbrantes e os parques verdes acolhedores, parece quase algo saído da ideia moderna de uma utopia. Até que descobrem o The Well, o seu distrito subterrâneo, sujo, escuro e castanho, os guardas discriminam e abusam a autoridade. É fácil perceber que a capital vos acolhe, se pertencerem à classe correta. Como New Atlantis, podem ler muito sobre o mundo de Starfield simplesmente absorvendo e observando os seus locais, sejam grandes cidades como laboratórios ou espaços abandonados.

Tenho sentimentos mistos em relação ao Starfield: encontrei boas qualidades e o tempo que lá passei entreteve-me. Contudo, nunca chegou realmente a ser uma experiência memorável: o combate é decente, mas não é super divertido, o enredo não me agarrou ao ecrã, as personagens… bem, as personagens estão lá, e fazer fast travel dum lado para o outro não é assim tão divertido. Acredito que eu posso não fazer parte do público alvo deste jogo, ou então estou a ser demasiado exigente ou a ter as expectativas erradas. Não esperava ser tão negativo nesta análise, porque acredito que o Starfield é um jogo competente, mas tendo em conta o RPG que joguei antes deste, estou desiludido e não tenho grande vontade de continuar a jogar. Concluo esta análise com a nota de 6 em 10.

Starfield no OpenCritic

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