Resident Evil, facilmente uma das franquias mais conhecidas e adoradas em toda a indústria dos videojogos, está de regresso, desta vez com o remake do seu jogo mais conceituado, “Resident Evil 4”, que em 2005 na Gamecube teve uma receção absolutamente estrondosa, sendo que a Capcom vê-se aqui numa tentativa de replicar esse sucesso.
Pessoalmente, apesar de ser um gigantesco fã dos vários jogos, esta entrada nunca foi dos meus favoritos de todo, tendo trocado a atmosfera e exploração em detrimento de ação pura que não me conseguiu cativar da mesma forma que jogos anteriores, pelo que as minhas expetativas não eram as maiores inicialmente, mas fico feliz em dizer que as ultrapassou em grande medida.

Ao nível narrativo mantém-se em linha com o original, porém tal como os anteriores Remakes da série e “Dead Space” faz algumas alterações que não só preenchem lacunas como caracterizam melhor as diferentes personagens à medida que o jogo se desenrola.
Falando em personagens o grande destaque são sem dúvida Leon e Ashley, não só interpretados de forma magistral por Nick Apostolides e Genevieve Buechner, como a sua relação é muito mais humana e palpável que no original, tendo Ashley não só uma autonomia acentuada na narrativa como na jogabilidade propriamente dita, não sendo apenas uma donzela em apuros como outrora, sendo agora uma personagem capaz e bastante relacionável.
Porém nem tudo é ideal, Salazar e Saddler, dois dos grandes vilões são…francamente fracos, perdendo completamente o charme e entretenimento que providenciavam antes com as diferentes interações com Leon e agora não só sendo muito mais sérios como também têm um tempo de antena extremamente curto.

Os visuais apesar de não serem nada do outro mundo são bastante bons, em especial a iluminação nas zonas mais tardias dão uma sensação de detalhe imensa, e todas as zonas do original que transitaram para este remake regressam com um novo aspeto e em certos casos uma estrutura do mapa completamente distinta, acabando por ser uma experiência fresca e renovada mesmo para os maiores veteranos.
Na PS5 o jogo tem diversas opções, Modo Resolução, Modo Performance, e além disso podemos escolher adicionar “Ray Tracing” a qualquer um deles, assim como “Hair Strands” que deixam as personagens com um cabelo muito mais realista e detalhado.
Pessoalmente joguei no modo performance com “Ray Tracing” ativo e fiquei bastante satisfeito com a minha experiência, raramente tendo presenciado quebras de fluidez notórias.

Já a banda sonora, composta por Kota Suzuki, não é má, porém deixa algo a desejar, pois tal como a de “Resident Evil 2 Remake” é demasiado suave e subtil em relação ao original, sendo pouco percetível para o jogador durante muito do tempo de jogo.
O áudio do jogo, apesar de excecional, deixa algo a desejar, pois os inimigos que outrora tinham o volume mais alto que tudo o resto para o jogador facilmente saber como reagir e de onde vinham agora têm um volume demasiado baixo e já não dão tantas indicações o que afeta um pouco a atmosfera do jogo além do combate, pois por exemplo o icónico “MORIR ES VIVIR”, ouvido incessantemente no castelo no jogo original aqui é trocado por simples silêncio e a atmosfera perdeu-se um pouco.

O grande destaque do jogo, no entanto, é sem dúvida a sua jogabilidade, Leon mostra-se altamente capaz de lidar com estas hordas de inimigos como no original, usando um vasto arsenal de armas, todas elas satisfatórias e diversos ataques corpo-a-corpo que ajudam a manter os inimigos afastados de Leon e a controlar os seus números, algo que se revela extremamente divertido e altamente viciante.
E mais viciante ficou com a adição do novo sistema de faca que o jogo utiliza, não só aprofundaram os ataques possíveis com a faca, que antigamente era apenas uma facada horizontal, como adicionaram um sistema de “Parry” que permite repelir quase todos os ataques inimigos e é das melhores coisas que já usei num jogo, não só funciona bem como é extremamente divertido, tendo o jogador de gerir a durabilidade da sua faca e até mesmo encontrar facas suplentes para continuar a desfrutar deste sistema.
Outra grande melhoria são os bosses, que salvo raras exceções são satisfatórios e um em especial é possivelmente o melhor boss já feito neste género, embora pequem por ser demasiado compridos, sinto que com menos vida seriam batalhas ainda melhores.

Porém é na jogabilidade que está também o maior problema do jogo, o sistema de mira num comando está completamente desajustado, não havendo forma de ativar “aim assist” de todo e as opções para mitigar o problema apenas fazem isso, mitigam mas nunca fica a 100% o que afeta bastante o divertimento do jogo quando nas dificuldades maiores os inimigos requerem mais tiros na cabeça para ficar atordoados, algo que também não gostei muito, pois no original apesar da dificuldade aumentar os inimigos tinham a mesma quantidade de vida e atordoavam sempre com um tiro na cabeça ou joelho, sinto que aqui estragaram um pouco algo que funcionava perfeitamente em 2005.
Outra pequena quezília que tenho são os inimigos serem capazes de nos agarrar mas não haver uma forma de impedir esses ataques por completo, algo que entra em choque com o sistema de “parry” pois simplesmente não há nada a fazer se o inimigo nos decidir agarrar, sinto que o jogo devia ter tido uma opção para nos desviarmos como em “Resident Evil 3”.

No entanto uma das minhas adições favoritas neste remake é um maior ênfase na atmosfera e exploração, 2 dos meus maiores problemas com o original, tendo cada zona um ambiente pesado e sombrio e imenso por explorar, em especial o castelo e a vila que agora parecem mesmo níveis num jogo clássico da franquia.
Além disso, conseguiram-me pôr a gostar da ilha, uma das zonas que menos gostei de sempre num jogo, pois não só é mais curta como agora tem menos confrontos seguidos, o que ajuda a reduzir a exaustão marcada que sentia no original por essa altura.

A implementação do Dualsense é também excecional neste jogo, cada arma tem um peso e impacto notórios e cenas em que usamos veículos têm sensações estonteantes ao acelerar em cima da água, sem dúvida um grande uso do comando “mágico” da Sony.
Em suma, “Resident Evil 4” é um remake simplesmente estrondoso, e embora não ultrapasse algo como “Resident Evil Remake” e não seja melhoria em tudo do original, é certamente um jogo que vai ser relembrado por muitos anos, pelo que lhe atribuo a nota de 9/10.