Like a Dragon: Ishin! – Análise

Dentro da série previamente conhecida como Yakuza no ocidente, existe uma pequena seleção de jogos que infelizmente nunca foi localizada para fora do Japão: falo claro de Ryū ga Gotoku Kenzan!, Ishin! e da duologia Kurohyō, todos spin-offs da série principal. Os fãs já há muito que pediam à Ryu Ga Gotoku Studio para localizar estes jogos, e com o anúncio de Like a Dragon: Ishin!, um remake de Ryū ga Gotoku Ishin!, não é surpresa que todos nós tenhamos saltado de alegria com a possibilidade de poder jogar um destes títulos por cá.

Like a Dragon: Ishin! foi lançado no passado dia 21 de Fevereiro e está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series S/X e PC. Deixo um agradecimento especial à Ecoplay por ceder uma cópia para facilitar a análise deste jogo.

A história e contexto de Ishin é baseada em eventos e figuras históricas reais, todavia, devido à minha ignorância perante história nipónica, não sei o quão preciso este reconto é, ou que liberdades toma. É possível que os mais entusiastas e curiosos por este período do Japão ganhem um apreço especial a esta entrada na série.

Quem é o protagonista que acompanhamos nesta aventura do período Bakumatsu no Japão? Sakamoto Ryoma (sim, é uma figura histórica), também conhecido por Saito Hajime, também conhecido por Kiryu samurai, este último sendo o que eu mais uso quando me refiro a ele. Pois, Ishin conta com um cast de personagens único, mas cujas aparências e atores estão presentes em todos os jogos da série principal: temos o samurai Majima, o samurai Saejima, até o Mine do Yakuza 3 tem um papel relevante aqui. E confesso, em 30 horas de jogo, não consegui decorar os nomes dos personagens porque acabava por referir-me sempre a ele pelo nome dos seus alter egos mafiosos. Por isso, se me referir a algum deles pelo seu nome da série principal, desculpem-me, de forma nenhuma estou a tentar desrespeitar a obra ou as figuras que representam.

O Kiryu samurai volta à sua terra natal de Tosa depois de treinar durante uns anos em Edo, e depara-se com a triste realidade que o seu povo enfrenta: A classe baixa é abusada e discriminada pela classe alta, os supostos honrosos samurais matam e cospem nos pobres como se lhes fossem inferiores enquanto quem está no poder nada faz para alterar isto. Esta revolta leva o Kiryu samurai a juntar-se à causa do seu irmão, líder de um grupo de lealistas que prometia acabar com a diferença de classes e o governo militar. Kiryu, tendo também sofrido este tipo de discriminação, decide juntar-se a este movimento, até que o seu pai adoptivo é assassinado e Kiryu é falsamente acusado pelo homicídio e forçado a fugir e viver sob um novo nome.

A narrativa de Ishin, sem surpresas, assemelha-se muito ao resto da série em termos de estrutura, ritmo e filosofia geral de escrita. Isto é, os pontos fortes dos outros jogos de Yakuza refletem-se aqui também, assim como os pontos fracos. O enredo tem momentos memoráveis, entre os confrontos das personagens, o forte compasso moral do protagonista, a mensagem que está a tentar carregar e o climax da história (este até foi levezinho em plot twists, comparado ao Kiwami 2 ou ao 4). Mas depois temos o típico diálogo expositivo excessivo, as cutscenes desnecessariamente longas, os ziguezagues para alongarem artificialmente o tempo de jogo – todas estas coisas que na minha opinião não fazem falta à série e de facto, acho que prejudicam mais do que ajudam – preferia uma campanha principal mais curta e concentrada, e que deixassem o conteúdo opcional carregar a longevidade do jogo.

Dito isto, a história entreteve-me. Dificilmente a considero a mais memorável, principalmente quando comparada aos enredos mais “pessoais” de Kiwami com a rivalidade do Kiryu e o seu melhor amigo, ou à de Lost Judgment com os seus momentos mais pesados sobre as vítimas de bullying. Sinto que daqui a algum tempo, já só me vou lembrar de alguns “story beats” deste jogo, e esquecer-me-ei do resto.

Em relação ao combate, como é que se compara aos jogos anteriores? Para começar, temos 4 estilos de combate diferentes: Brawler, onde combatemos com os nossos punhos, Swordsman, usamos a espada, Gunman, em que usamos a pistola, e Wild Dancer, uma combinação da espada e pistola. Este último, como seria de esperar, é o mais vistoso e interessante, foca-se mais em manter um combo constante e é excelente para derrubar grandes grupos de inimigos. Contudo, nem foi o que eu usei mais. Tentei sempre variar nos estilos que usava, não só por ser uma mania minha em variar o “arsenal” nestes jogos, como o próprio Ishin promove esta variedade. Ao usarmos um estilo de combate ganhamos skill points gerais e skill points específicos ao estilo que estamos a usar para podermos desbloquear habilidades de combate. Aliado a isto, temos as “trooper cards”, pequenas ajudas em combate com habilidades especiais. Temos 3 trooper cards equipadas por estilo de combate e recarregam ao usar o seu estilo respetivo.

O combate é divertido, cada estilo tem os seus pontos fortes, seja para combater à distância com a pistola ou combater um para um com a espada, há sempre opções para derrubarmos os inimigos. O Brawler é a única excepção e pareceu-me muito fraco em comparação aos outros: como há um sistema de equipamento em Ishin, o nível da espada que temos equipada faz muita diferença. Ora, como Brawler não usa o equipamento (tanto quanto me tenha conseguido aperceber), acaba infelizmente a ser um estilo muito ineficaz, com dano reduzido

Joguei em Hard e, confesso, ainda tive algumas dificuldades com os bosses iniciais que davam cabo de mim – apesar da minha experiência com esta série nunca fui particularmente bom no combate – mas com o tempo esta dificuldade foi-se reduzindo graças à experiência ganha e às habilidades que se vão desbloqueando. Lá para o final sentia que já estava a dominar mais ou menos o combate. Contudo, acabou por não me dar a sensação de dinamismo que o combate do Lost Judgment me provocou com os seus “juggles” loucos e o ritmo frenético. Se o fosse comparar diretamente ao Ishin, escolheria o Yagami em vez do Ryoma.

Como habitual em Yakuza, o mundo está recheado de histórias opcionais e mini-jogos. Estas histórias variam entre hilariantes ou completamente aborrecidas, e os mini-jogos tanto podem ser divertidos como o Karaoke e a Dança (estupidamente difícil, já agora), aborrecidos (há um jogo onde… cortam lenha), ou estranhamente envolventes (há um mini-jogo onde cozinham que é simples, mas giro). Já seria de esperar, o que não nos falta neste jogo é conteúdo extra.

Ishin também me desiludiu no que toca a visuais. Há uma incrível dissonância entre as cutscenes e o gameplay, onde as cutscenes têm um aspeto incrível, a iluminação reflete-se no metal das katanas, vemos o suor a escorrer pela tensa face das personagens enquanto se preparam para um duelo até à morte ao coberto da leve luz da lua… E depois passamos para o combate em si e parece que recuámos duas gerações: as texturas são fracas, as expressões faciais e os modelos de personagens são rígidos, e a iluminação faz o mundo parecer um pedaço de um set artificial. Não sei se foi pela mudança para o Unreal Engine 4, se houve curvas onde de tiveram de cortar pelo orçamento, ou simplesmente não houve tempo, mas parece ser um passo atrás dos visuais dos jogos feitos no Dragon Engine, como o Yakuza 6 ou o Lost Judgment.

Joguei Ishin numa PlayStation 5 e não tive problemas de performance, à exceção de uma parte específica da história.

Concluindo, Like a Dragon: Ishin! é mais do mesmo, só que em 1860. Tendo feito a análise a este jogo como um jogo novo, em vez de um remake (acho justo, não considero os Kiwami inferiores por serem remakes), não encontrei aqui nada que o elevasse em relação ás restantes entradas da série. Isto não é uma crítica negativa. Para os fãs da série, este jogo é uma recomendação fácil: o combate é divertido, a narrativa, apesar dos problemas do costume, entretém e o conteúdo adicional varia entre bom e aborrecido. Escusado será dizer que se não gostaram particularmente dos outros jogos da série, não vejo razão para este ser diferente. Classifico-o com uma nota de 7 em 10.

Like a Dragon: Ishin! no OpenCritic

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