Klonoa, para quem não conhece, é uma das mascotes da Bandai Namco, que após algum sucesso ficou algo esquecida no início dos anos 2000, depois de um remake do primeiro jogo na Wii e alguns títulos menores no Game Boy Advance.
Passado todo este tempo chega-nos agora “Klonoa Phantasy Reverie Series”, uma compilação com versões melhoradas dos dois primeiros jogos.
Narrativamente, Klonoa é algo difícil de descrever: ao princípio é uma história relativamente simples por ser um jogo com um público-alvo infantil, mas fica mais complexa perto do fim do primeiro jogo, passando de uma simples batalha do bem contra o mal para algo mais existencial e mais focado num “lore” específico ao universo.

O segundo jogo é algo semelhante nesse aspeto, embora tenha uma narrativa muito mais repleta de exposição e detalhes sobre cada personagem, sendo muito mais rica que a do primeiro jogo, embora sem conseguir chegar ao mesmo patamar dos momentos finais do primeiro jogo.
A nível visual, ambos os jogos na PS5 correm a 4K e 60 frames por segundo, não tendo, como esperado, grandes problemas a atingir esse alvo.
Ambos os Klonoa são visualmente encantadores, sendo coloridos e muito encantadores de se jogar. Cada localização tem o seu próprio charme e identidade visual distinta, especialmente no segundo jogo, que na PS2 era muito mais escuro e com cores mais esbatidas. Nesta coleção acrescentaram-lhe a cor e aspeto mais divertido do original e o resultado é incrível, em especial as sequências mais grandiosas, onde atravessamos níveis inteiros num canhão ou sequências de “snowboarding”.

A banda sonora é composta por todas as músicas existentes nos jogos originais e continua incrível, mesmo após mais de vinte anos. Recomendo ouvirem-na caso gostem do estilo musical de jogos de plataformas desta era.
A jogabilidade, embora bastante semelhante em ambos os jogos, tem algumas diferenças mais subtis, consideráveis se os jogarem de seguida.
Ambos os jogos apresentam uma mecânica algo única que consiste em atingir inimigos com uma arma de ar, enchendo-os, podendo depois utilizá-los como formas de alcançar plataformas mais elevadas ou atingir caixotes ou outros inimigos, algo que se pode tornar muito satisfatório quando estamos a fazer tudo em sequência, especialmente nos níveis mais tardios. Porém, é algo que se pode tornar frustrante, pois estes jogos exigem precisão “frame perfect”, pelo que se tiverem tempos de reação mais lentos ou simplesmente clicarem num botão uma milésima mais tarde muito provavelmente vão morrer, porque o jogo requer essa precisão e qualquer falha significa fracasso, em especial no segundo jogo onde a física requer uma precisão ainda maior e mais rápida.

O primeiro jogo é bastante simples, apostando nesta mecânica para construir os seus níveis, tendo um design de níveis impressionante para a altura, cheio de caminhos alternativos e formas diferentes de utilizar o cenário.
Já a sequela pega nestas bases e melhora praticamente tudo, adicionando algumas mecânicas novas que acabam por tornar estes níveis em enormes puzzles de plataformas, onde temos de planear a melhor abordagem e ordem de ações para conseguir ter sucesso. Se por um lado apreciei bastante esta complexidade mecânica, não gostei tanto dos níveis gigantescos neste segundo jogo, já que acho que neste tipo de jogos níveis mais curtos dão uma melhor experiência. Ainda assim a sequela é uma experiência extremamente boa, quiçá melhor que a do primeiro, apesar desse ter a nostalgia do seu lado.
Ambos os jogos tratam-se de jogos de plataformas em 2.5D, o que significa que embora só nos consigamos mover na horizontal, o jogo toma total partido do cenário inteiro, havendo inimigos e mesmo colecionáveis no pano de fundo. Isto adiciona uma boa dinâmica e aumenta o interesse nos níveis, já que temos de manter esses elementos na nossa atenção.

Os bosses que enfrentamos nestes jogos no geral são bastante únicos: embora a mecânica utilizada seja quase sempre a mesma, cada luta adiciona as suas próprias reviravoltas e acabam por ser quase todos satisfatórios de se enfrentar. Especialmente no segundo jogo, são desafiantes logo de inicio, mas sem exagero, a dificuldade está melhor equilibrada que em certas sequências de plataformas, não exigindo tanta perfeição. Ainda assim, a perfeição é sem dúvida recompensada, já que podemos mesmo vir a atingir o boss 3 vezes de seguida na mesma fase da luta em rápida sucessão se efetuarem as ações naquela fração de segundo.
Relativamente à coleção em si, o pacote é sólido e são adicionadas algumas melhorias de qualidade de vida apreciadas, como diferentes dificuldades. Mas nem tudo é perfeito:
As dificuldades variam entre fácil e normal, sendo normal a dificuldade original e o fácil, resumidamente, fácil demais. Sinto que podiam ter havido mais opções e até mesmo personalização nesse aspeto para quem quisesse uma dificuldade parecida com o original mas com alguma das vantagens do modo fácil.
Além disso, encontrei alguns bugs, em especial no segundo jogo onde cada vez que derrotamos um boss a “framerate” cai durante uns segundos, ficando horrível.
Outra desilusão vem do facto de ambos os jogos terem um “Pixel Filter” horrendo, em especial no segundo jogo onde não faz sentido porque é um jogo de PS2. Sinto que teria sido um bónus muito melhor incluir os jogos originais como MediEvil fez em vez de algo tão embaraçosamente mau.
As cinemáticas também apresentam 2 opções, “Skip” e “5x speed”, e esta segunda é francamente inútil: demasiado rápida para ver qualquer coisa, o que faz com que mais valha dar skip. E também é inconsistente quando é que podemos premir um botão para avançar o texto.

Sinto que podiam ter ido mais longe com a remasterização e uniformizar as físicas entre ambos os jogos tal como Crash fez, mas muito possivelmente ia ser divisivo, pois o primeiro jogo honestamente tem as melhores físicas dos dois.
Em suma, “Klonoa Phantasy Reverie Series” é uma ótima forma de experienciar estes jogos, e quiçá incentivar à criação de um novo jogo inserido nesta franquia, sendo recomendado a fãs do género, e acima de tudo fãs de Klonoa, pelo que atribuo a nota de 7.5/10.