Lost Judgment – Análise

Lost Judgment é a entrada mais recente no universo de Yakuza (Ryū ga Gotoku no Japão) e funciona como uma sequela ao jogo de 2019, Judgment (originalmente lançado no Japão em 2018) e segue mais uma vez as peripécias de Takayuki Yagami enquanto este explora as cidades de Kamurocho e Ijincho. O novo jogo da Ryu Ga Gotoku Studio foi lançado para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series S/X.

Agradecemos à Ecoplay por fornecer um código para a análise do jogo. A análise foi feita com base na versão PlayStation 4.

O detetive protagonista é levado a Ijincho para investigar um caso relacionado com bullying numa escola local. Durante a investigação, Yagami acaba por se envolver noutro caso que poderá estar ligado a ela, referente a um cadáver encontrado na cidade.

A narrativa de Lost Judgment encaixa nos moldes da série como todos os seus predecessores. Podem esperar um enredo repleto de voltas e reviravoltas com aqueles momentos exagerados e “over the top” que tornam estes jogos tão cativantes e únicos. Posto isto, o jogo sofre dos mesmos problemas narrativos da série – e duma forma mais generalizada, de grande parte dos jogos nipónicos – onde há sempre uma enorme presença desfavorável de diálogos de exposição desnecessária ou simplesmente pouco natural. Há alturas em que uma Personagem A explica à Personagem B o que a Personagem B acabou de fazer e o porquê. Talvez numa tentativa de evitar que o jogador não perca o fio à meada, mas a meu ver é escusado e apenas trata os jogadores como crianças sem capacidade de interpretar a ação no ecrã e aumenta superficialmente a longevidade do jogo.

Não obstante, o diálogo não deverá impedir a maior parte dos fãs de desfrutar do jogo e enredo. E a despeito disto, o Lost Judgment até lida com um assunto muito real e sério: bullying. Não se limita meramente a retratar o ato de abuso entre um agressor e a vítima, tampouco isso é o foco. O Lost Judgment dá atenção ao impacto do bullying em todas as vítimas, diretas ou indiretas, dessa prática desprezível ao envolver os pais, professores e colegas da vítima e expor a influência na saúde mental e emoções de cada uma após anos sem conseguir ultrapassar traumas ou demónios pessoais. Por vezes, o jogo podia ter sido mais delicado ao lidar com certos assuntos e nos atos finais este tema acaba por ficar em segundo plano para o típico grande esquema político que parece acontecer em todos estes jogos. Ainda assim, há aqui um conto que envolve estas experiências, sobrepõe dilemas morais sobre a justiça e vingança e apela à empatia do jogador, finalizando com uma conclusão que, dizendo da forma mais superficial possível, ensina-nos que “revenge bad“.

Quem jogou as entradas mais recentes da série já sabe o que esperar dos visuais de Lost Judgment: as cidades de Kamurocho e Ijincho estão recheadas de pormenores nas lojas, restaurantes e edifícios, as grandes ruas estão completamente iluminadas pelos sinais e letreiros luminosos com dezenas de pessoas a fazer a sua comuta diária enquanto os pequenos becos escuros são habitados apenas pelo ocasional sem-abrigo e poças de água sujas. Embora o aspeto visual do mundo esteja bem conseguido como sempre, a qualidade dos modelos e faces dos personagens em cutscenes é o mais impressionante. Não chega ao nível do trabalho da Naughty Dog em termos de expressões e animação facial, mas os detalhes são louváveis. Continua a ser uma pena que as animações e qualidade geral em diálogos (fora de cutscenes) sejam tão rígidas. A iluminação também consegue ser admirável e de vez em quando há indícios de boa fotografia com o ocasional plano cinematográfico criativo, gostava que explorassem e trabalhassem mais essa vertente já que o jogo nos carrega com cena após cena durante horas.

A performance na PS4 era maioritariamente estável, mas corria a 30 frames por segundo. Em zonas mais densas e com mais NPCs havia quedas de frames que embora não frustrantes, eram notáveis.

A banda sonora surpreendeu-me: não costumo ser fã de dubstep (até posso estar a julgar erroneamente o tipo da música) mas algumas das músicas misturam o género com metal e acabam por se integrar perfeitamente com o combate. Deixo o exemplo Vorarephilia. Os sound effects e sound design é sólido, não tenho grande coisa a apontar.

Claro que o aspeto mais divertido no jogo é o combate. Lost Judgment oferece três estilos de combate diferentes com vantagens e desvantagens únicas entre si: O Crane Style, que se foca em evasão e combater vários inimigos ao mesmo tempo; O Tiger Style, que é mais apropriado a combates de um para um; E o novo Snake Style que oferece várias opções de contra-ataques e é mais adequado para lidar com inimigos armados. Podem alterar o fighting style quando quiserem com apenas o premir de um botão. Têm uma barra de Heat para poderem utilizar habilidades e ataques EX. Para ativarem o EX Boost, onde o Yagami se envolve numa aura e, para além de ficar mais forte, pode utilizar novas habilidades e fazer uma espécie de “cancel”, onde pode trocar de combat style a meio de um combo para fazerem um novo ataque. Isto oferece uma imensidão de combos e possibilidades no combate. Das 30 horas que tenho no jogo, sinto que ainda houve muitos combos por explorar no combate, e até acabei por ver vídeos no Twitter de jogadores a fazer “juggle combos” como se estivessem a jogar Tekken ou algo parecido. Acrescento que vão desbloqueando mais habilidades ao longo do jogo com pontos SP, tornando o combate cada vez mais aberto e versátil. O jogo promove-nos a sermos versáteis e a variar no combate, visto que ganhamos mais SPs em cada encontro com a variedade de ataques que fizermos.

Como detetives não podem simplesmente esmurrar tudo até ao vosso objetivo, às vezes é necessário uma aproximação mais subtil. Em Lost Judgment terão de seguir pessoas de interesse, infiltrar locais furtivamente ou tirar fotos incriminadoras a certos suspeitos. Infelizmente, a maior parte destes aspectos no jogo funcionam superficialmente. Seguir pessoas consiste apenas em seguir pessoas e esconderem-se atrás de objetos ou paredes quando estas olham para trás. As secções de stealth necessitam apenas de seguir um caminho muito linear e distrair ou neutralizar os inimigos. E por aí adiante. Felizmente, a quantidade destas secções foi bastante reduzida em relação à prequela.

Em prática comum da série da RGG Studios, as cidades de Kamurocho e Ijincho estão saturadas com conteúdo: Têm side cases (substituto das Side Stories nos Yakuza) com histórias cómicas, os novos school stories (que são uma espécie de side quests mais alongadas com várias etapas) e, claro, uma abundância de mini-jogos, desde dança, a arcades (com o Sonic The Fighters!), a uma espécie de jogo de tabuleiro VR (VR dentro do jogo, não na vida real). Por alguma razão infeliz, o melhor mini-jogo da série continua a não estar presente em Judgment: o karaoke. Alguns dos side cases são obrigatórios: estes normalmente servem para apresentar mecânicas de jogo importantes, mas sermos obrigados a fazê-los parece-me que acrescenta mais “filler” à campanha principal que não sofria nada em ser mais curta. Eu acabei a história principal do jogo por volta das 30 horas, fui fazendo algum conteúdo extra que me aparecia pelo caminho, e depois dos créditos finais, tinha apenas 21% do conteúdo feito.

Numa última nota, deixo uma crítica à falta de opções de acessibilidade (não há virtualmente nada para isso), e às tips que estão constantemente a aparecer no ecrã sem forma de as desligar nas opções.

Em suma, Lost Judgment é uma compra obrigatória para os fãs da RGG Studios. Para além de ter um combate divertidíssimo e estar repleto de conteúdo, conta uma história pessoal e empática sobre bullying e justiça, embora a execução pudesse ser muito melhor. Classifico o jogo com um 7.5 em 10. Se estão a pensar em entrar na série, aconselho-vos a começar pelo Judgment (se estiverem apenas interessados na história de Yagami), ou pelo Yakuza 0 (se quiserem experienciar todo o mundo Yakuza).

Lost Judgment no OpenCritic


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