Prince of Persia: The Lost Crown tornou-se o meu jogo favorito da série (Análise)

2024 é um ano especial para fãs de Prince of Persia, não recebemos apenas um, mas DOIS jogos completamente novos numa série que mal recebeu apoio por parte da Ubisoft depois de ter sido canibalizada pela galinha de ovos de ouro que é o Assassin’s Creed, há mais de uma década.

The Lost Crown é uma “nova esperança”, um retorno em grande na forma de um metroidvania desenvolvido pela Ubisoft Montpellier, um dos estúdios mais talentosos da distribuidora francesa e responsável por jogos como o excelente Rayman Legends ou o clássico de culto Beyond Good & Evil.

Após 30 anos de crise, fome e seca, o império persa está no limiar do colapso, e o seu Príncipe Ghassan acaba de ser raptado e levado para uma cidade amaldiçoada no Mount Qaf. O nosso protagonista, Sargon, junto com o seu grupo de guerreiros conhecidos como The Immortals, parte em resgate do príncipe, mas a própria cidade é um adversário mais perigoso que qualquer inimigo que encontraram.

A narrativa é simples, embora rica em voltas e reviravoltas, há uma clara, fresca e muito bem vinda inspiração em mitologia Persa e até se aprende alguma coisa sobre o seu folclore ao explorar o mundo e ler os pedaços de informação nos colecionáveis. A escrita em si não faz nada de especial, as personagens secundárias não são extremamente superficiais mas não esperem histórias envolventes ou encenações memoráveis, são sobretudo um plot device para guiar o que é importante, o gameplay e design do mundo.

E no que toca a um metroidvania, está aqui tudo o que podemos esperar: bom combate, transversalidade rápida, flexível e satisfatória e um mapa grande e interligado com pedaços narrativos a estimular a exploração. The Lost Crown surpreendeu-me até. O movimento de Sargon para além de super responsivo e preciso, abre mesmo muitas hipóteses para o desafio de plataformas, houve aqui pequenas secções do mapa com colecionáveis opcionais que foram deliciosos de enfrentar. As pequenas margens de erro que ofereciam e a combinação de poderes que exige, desde um dash normal a duplo salto ou até a usar uma espécie de clone para voltar atrás no tempo para evitar mortes certas, colmatavam numa sensação de mestria e controlo total sobre o protagonista que não sentia desde Ori and the Will of the Wisps. O combate anda de mão-a-mão com o movimento e as habilidades de Sargon deixaram-me boquiaberto. Há muitos combos possíveis, há todo um sistema de juggling, vários ataques especiais e claro, um parry, toda a gente adora um bom parry. Estarão a cortar inimigos e a mandá-los pelo ar com grande estilo, mas é nos bosses que a coisa fica mesmo bombástica. Os bosses são desafiantes (mas não difíceis) e mantiveram-me sempre em alta adrenalina a tentar desviar e bloquear a onda interminável de ataques num espetáculo cinemático que acredito que tenha sido possível graças ao orçamento da Ubisoft. Lembram-me, por exemplo, os inimigos épicos de Metroid Dread onde a Samus fazia piruetas e manobras dramáticas como uma heroína de ação.

Os poderes, habilidades e o level design em si estão mais dentro do espectro que já estamos habituados no género. O jogo não gaba a criatividade de design que o recente Animal Well tem, é um jogo mais seguro e mais familiar, mas, aquilo que tenta fazer – uma interpretação metroidvania da série – fá-lo muito bem. Afinal, os jogos anteriores de Prince of Persia já estavam com um dos pés na porta de entrada para o género (e não estou a falar da perspectiva 2D, mas sim do level design), eu menciono isto no meu artigo sobre a saga The Sands of Time quando escrevi sobre o Warrior Within. Até própria animação do dash aéreo do Sargon é a famosa “wall run” do prince, com isto quero dizer que o estúdio não se limitou a fazer um Metroidvania e estampar-lhe o nome da série depois, houve aqui considerações sobre o que veio antes e como se podia adaptar, o que, como fã, agradeço.

Se pudesse pedir alguma coisa, seria um pouco mais de criatividade nas habilidades que desbloqueamos, a maior parte são previsíveis, e tendo em conta a narrativa à volta da viagem no tempo, acho que havia aqui algum espaço para inovar. Claro que é mais fácil falar e sugerir do que implementar, mas, espero que numa potencial (mas infelizmente, pouco provável) sequela consigam criar novas mecânicas interessantes.

Até lá, recomendo vivamente jogarem Prince of Persia The Lost Crown. É dos meus jogos favoritos do ano, um Metroidvania muito sólido, com um combate e movimento surpreendentemente bons e prova que ainda há lugar para a série numa Ubisoft pós Assassin’s Creed. Espero que o estúdio continue a apostar na série e estarei cá para a sequela. 8 em 10.

Leave a comment