A pequena bola cor-de-rosa conhecida como Kirby já é um ícone dos videojogos e ultrapassou a presença em bem mais de 30 jogos. Kirby and the Forgotten Land é a sua mais recente aventura. O jogo desenvolvido pela HAL Laboratory está disponível em exclusivo para a Nintendo Switch e leva o nosso herói numa jornada beat ’em up em 3D.
Um agradecimento à Nintendo Portugal por fornecer um código do jogo para esta análise.

Kirby é absorvido por um vórtex negro e transportado para um novo mundo. Aqui, ele não só descobre que os Waddle Dee’s estão a ser raptados, como tem um novo poder de absorção, o mouthful mode: que o permite sugar e cobrir objetos para utilizá-los para sua vantagem, como absorver um carro para correr mais depressa e atropelar inimigos, ou engolir uma máquina de vendas de sumos para disparar latas como uma metralhadora. Cabe ao Kirby usar os seus poderes para resgatar o maior número de Waddle Dee’s possível e tentar voltar ao seu mundo.
The Forgotten Land é relaxante e criativo. Cada nível puxa pela exploração e experimentação graças aos seus “desafios”. Desbloqueiam vários segredos só por experimentar e interagir com elementos dos níveis no jogo. Por exemplo: há patinhos espalhados por este mapa, será que acontece alguma coisa se os guiar para a mãe? Há lanternas perdidas nesta secção, será que acontece alguma coisa se as acender com o poder de fogo? A resposta costuma ser sempre “Sim”. Há sempre segredos diferentes para descobrir, mas mantêm a sua simplicidade ao longo do jogo. Gostava que o estúdio tivesse experimentado um pouco mais com os níveis, talvez torná-los ligeiramente mais abertos, algo ao estilo de Super Mario Odyssey.
Ao fazer os segredos, vão resgatar um número maior de Waddle Dee’s, o que em torno desbloqueia novos edifícios e funcionalidades no “hub” do jogo, que vos permite jogar mini-jogos, ganhar moedas, participar em torneios e evoluir os vossos poderes.
Há alturas em que este jogo parece ser simples demais. O que é expectável, tendo em conta que também é dirigido a crianças. O combate não é demasiado desafiante, os níveis são em grande parte lineares, e os puzzles não puxam muito pela cabeça. Contudo, isto aplica-se principalmente ao “núcleo” do jogo, e é no conteúdo opcional – os segredos, os desafios e pontuações – onde se retira mais satisfação, seja por fazer um boss sem levar dano, ou completar um nível no mínimo tempo possível.
Falando em conteúdo opcional, o jogo conta com “Treasure Roads” onde são limitados a apenas um poder (The Forgotten Land tem um número reduzido de poderes em relação a outros Kirby’s, mas são bem aproveitados, na maior parte) e têm um tempo limite base que devem completar, e um tempo desafio para os “complecionistas”. Estes tempos desafio conseguem ser bastante incoerentes. Alguns são extremamente precisos e requerem uma corrida quase perfeita por parte do jogador, outros têm uma margem bem mais suave e permitem mais erros. Não fiz os tempos todos, mas admito que senti alguma frustração em alguns pela pouca margem de erro permitida e acabava por falhar o tempo por uma questão de meio segundo ou menos. Dito isto, conseguirem tempos rápidos é uma boa forma de gabar o vosso domínio de um ou mais poderes específicos no jogo.



The Forgotten Land não me deslumbrou com os seus visuais. O jogo mantém uma estética colorida e fofa, se o tivesse de resumir numa frase, diria: “é agradável à vista”. O UI e mundo são fáceis de interpretar e ler, e as animações são o destaque principal, desde a forma como os inimigos se movem e atacam, ao próprio movimento do Kirby. Até a forma como ele cai de grandes alturas caracteriza muito bem o pequeno herói e ajuda imenso a dar-lhe personalidade, seja em gameplay como nas cutscenes.
Todavia, senti que certos níveis não ressoavam tão bem com o mundo e estética visual do jogo. Os ambientes mais sombrios do mundo pós-apocalíptico desviavam-se da palete relaxante e agradável, mas não ofereciam o sentimento de peso, inquietude ou o que quer que seja que estavam a tentar alcançar com o mesmo. Saiu apenas uma mistura estranha entre o estilo visual de Kirby e um estilo mais “realista” que simplesmente não funciona.
O mesmo se aplica aos inimigos do jogo, onde a maior parte encaixa bem no ambiente do jogo, mas depois têm exemplos, como alguns dos bosses, onde um parece saído duma paródia infantil do Resident Evil, e outra deve ter passado por um vortéx que estava ligado ao Sonic Forces. Escolhas estranhas, para ser honesto.
O jogo também corre apenas a 30 fps, o que é uma pena, mas talvez não fosse possível alcançar os 60 fps na Switch com este jogo.

A banda sonora orquestral é bem mais coerente com o estilo do jogo. Não falha em fortalecer o espírito de aventura e exploração do jogo, em animar as cutscenes ou a pressionar mais no combate e desafios de tempo na Treasure Road. O sound design e efeitos sonoros também fazem o seu trabalho, não tenho muitas queixas quanto a isso, tirando à ausência de efeitos durante certas cutscenes, o que penso que tenha sido uma escolha voluntária, mas desgostei e parecia que tornava as cutscenes incompletas.
Por fim, deixo uma nota infeliz à falta de opções de acessibilidade por parte do jogo. Há um modo mais fácil que o “Wild Mode” (o que eu diria é o modo “normal”), mas tirando isso, há apenas duas opções para o esquema de controlos e nada mais. Muito fraco.

Eu joguei isto logo a seguir ao Elden Ring e posso dizer que foi uma mudança e tanto, mas bem vinda. Kirby and the Forgotten Land não me apanhou de surpresa, foi simples e curto, e acho que isso joga a seu favor. Podia ter sido mais coerente com os seus visuais, e podia ter experimentado mais com o seu level design, mas funciona bem como um pequeno jogo de puzzles, plataformas e beat ’em up que podem comprar para relaxar, ou para oferecer a uma criança. Em suma, penso que uma nota de 6.5 em 10 é justa.
Porque o Diogo Arez também jogou o jogo, fica em baixo um pequeno segmento com a opinião dele:
“Da minha parte, também vindo de várias horas passadas em “Elden Ring“, senti que este foi o jogo ideal para recuperar desse título.
“Kirby and the Forgotten Land” não reinventa a roda e certamente não vai inovar o género de todo, mas foi uma experiência tremendamente divertida, especialmente o 100% de coleccionáveis que não só não foi maçador como no geral fez-me apreciar ainda mais o jogo e as coisas divertidas que faz com as mecânicas,os desafios também fizeram o combate bastante satisfatório.
Os confrontos com os bosses são um grande destaque, são simples e – no geral fáceis – mas têm movesets bem trabalhados, fazendo-me lembrar alguns Souls. Em tom de brincadeira até se podia considerar isto uma versão infantil desses jogos ao nível do combate. Também de notar que apesar de algumas melhorias nesse aspecto ainda senti alguma dificuldade a apontar ataques à distância em certas lutas devido à perspectiva e a forma como Kirby se move. Nada grave mas ainda assim importante realçar, nomeadamente quando o jogo tem desafios que requerem a quase perfeição quando o próprio jogo não é perfeito.
A exploração é uma faca de dois gumes, é satisfatória e o jogo tenta recompensar a nossa curiosidade, mas a movimentação de Kirby é extremamente limitada em comparação a outros jogos do género, especialmente a nível vertical, tendo Kirby uma distância inconsistente a planar, não se conseguindo por exemplo passar zonas sem usar a mecânica explicitamente necessária, algo que vai em choque com a maior liberdade da nova perspectiva. Nessa questão sinto que podem aprender bastante com “Super Mario 3D World” e “Super Mario Galaxy” com a sua liberdade em níveis mais lineares. As novas mecânicas do “Mouthful Mode” são um passo na direcção certa, mas não chegam ao seu verdadeiro potencial neste jogo.
Em suma, “Kirby and the Forgotten Land” é um jogo extremamente adorável e divertido, que me entreteve mais que qualquer jogo este ano em termos de diversão pura, mas tem problemas difíceis de ignorar, ao fazer o 100% sinto que a minha experiência melhorou mas também enalteceu os problemas, pelo que atribuiria a nota de 7/10.”
– Diogo Arez