Análise: “Void Bastards”

Não é segredo que Void Bastards inspira-se fortemente em Bioshock e System Shock 2. Não digo isto apenas por ter jogado o jogo, mas porque está escrito na página da Steam e no site da Blue Manchu. Mas apesar da equipa querer que o jogo seja visto como tal, o jogo é mais do que isso. Bebendo inspiração, da mistura sai algo único, mas nem sempre original.

Joguei este jogo na versão PC e o jogo está disponível na Steam, Humble Bundle e Xbox One por 29,99€.

Void Bastards é um rogue-lite Sci-Fi em primeira pessoa. A acção passa-se no espaço a bordo do S.T.E.V.E., uma nave pessoal de transporte e o jogador calça as botas de um prisioneiro. A aventura começa no Void Ark, uma nave espacial que transporta uma série de criminosos transformados numa espécie de sumo de laranja em pó (um “Tang” de certa maneira) que, de acordo com as necessidades do poder vigente, são aguados, misturam-se e *poof*, voltam à forma humana. A nave está avariada e o objectivo do jogador é coleccionar uma série de peças para repará-la e conseguir escapar da Sargasso Nebula, um espaço abandonado ao caos com piratas, cidadãos degenerados, criaturas espaciais colossais e polvos gigantes. A história prolonga-se e apesar do tom sarcástico, da crítica a uma sociedade capitalista e ultra burocrática e de algumas linhas cómicas. Considerando a nota positiva no que toca a este rumo narrativo, não parece haver um verdadeiro propósito ou um final satisfatório. A narrativa constrói-se à volta da viagem, mas não há grande satisfação em voltar.

Um cliente a transformar-se em “tang”

Tal como descrito anteriormente, o objectivo do jogador é reparar a nave, passando sempre por coleccionar peças que se encontram nos navios espalhados pela nebula. À medida que se vai descendo, a dificuldade intensifica-se, ficando os inimigos cada vez mais fortes. Cada nave que visitamos não é apenas diferente no layout mas também na constituição de inimigos, nos bónus que podemos apanhar, nas próprias condições da nave: cada uma pode ou não ter vantagens e desvantagens, como inimigos aliados, nave escura, portas trancadas, e, claro, no loot que apanhamos. O jogador necessita de comida e combustível, que pode ser obtido nestas naves ou em espaços diferentes da nebula que oferecem recompensas, para poder fazer cada salto de espaço em espaço (cada salto corresponde a uma unidade de cada). Esta é a premissa básica do jogo.

O jogador desfruta ainda um sistema de crafting bastante satisfatório. Após cada visita a uma nave ou passagem por um ponto bónus, o jogador vai coleccionando materiais que são usados para construir materiais específicos que por sua vez são utilizados para montar o arsenal do jogador. Desde armas até peças de equipamento para melhorar a capacidade de resistência e sobrevivência. Sendo um rogue-lite, após cada morte o jogador mantém todo o equipamento que tinha antes. Neste aspecto, há um bom equilíbrio entre a morte e a continuidade no jogo, sendo que cada vez que o jogador morre, um novo prisioneiro toma o seu lugar. Cada prisioneiro tem uma série de características genéticas diferentes, benéficas ou não, podendo estas serem alteradas em certas naves ao longo do percurso.

O rescaldo da exploração da nave

Void Bastards vence sobretudo no que toca à sua estética. Apesar de, como dito inicialmente, o jogo nem conseguir ser sempre original, o visual à comic que permeia o jogo (algo nada inédito), é feito de uma maneira que espanta na sua variedade, não só em termos de inimigos mas mesmo em termos de layout. Este últimos acabam por se repetir, mesmo as versões mais fortes dos npcs existem apenas numa mudança de cor, mas são sempre agradáveis de observar, especialmente na fluidez das animações e como estas combinam com o ambiente. Por outro lado, em termos sonoros há pouco a dizer. Os efeitos sonoros são satisfatórios e servem o seu propósito. Grunhidos dos inimigos e uma deixa visual (no ecrã surgem em estilo comic os sons de pegadas ou falas dos inimigos) permitem-nos identificar sempre onde estão as ameaças. A banda sonora em si deixa algo a desejar mas não é fulcral ao jogo que quer que o jogador se sinta envolvido na atmosfera.

Em tom conclusivo, Void Bastards é um jogo que vale a pena experimentar. Peca um pouco no seu replay value mas enquanto primeira experiência de 8-10 horas, é uma das melhores que vamos ter o prazer de ver este ano. A criatividade estética e a jogabilidade tornam este jogo uma experiência positiva para o público geral. Para os fãs de ávidos de rogue likes, não vai ser uma experiência surpreendente. Atribuo uma nota final de 8.5 em 10.

Void Bastards no OpenCritic

Leave a comment