Diablo IV – O inferno espera

É difícil pensar em Diablo sem relembrar os primeiros anos de adolescência em que ia a casa de um amigo passar tardes em jogatanas na PS2. Perto do computador da sala estava várias caixas de jogos, curioso (e sem vergonha) comecei a pegar nelas. Counter-Strike, Half-Life, Age of Empires, Championship Manager, mais uns quantos, e por fim, o Diablo II. Um jogo com uma capa diferente do que estava habituado. Tinha o título Diablo II em chamas e no segundo plano um esqueleto com um ar ameaçador, a sorrir maleficamente e um brilho nas covas dos olhos. Estava ligeiramente assustado, confesso, mas hipnotizado por aquela capa. Falámos de um período em que achava o Shadow the Hedgehog fixe; muito mais fixe que o Sonic. Depois de várias idas à casa, finalmente ganhei coragem para perguntar sobre tal o jogo. Um jogo que era apenas para o PC, de certa forma proibido porque o PC era propriedade exclusiva do irmão mais velho no que tocava a jogos.

Para resumir a história, eventualmente, depois de muita choradeira (e pedidos) aos pais deles, finalmente nos deixou jogar no PC dele. A mãe dele achava a violência cartonesca e o pai até jogava aquilo de vez em quando. Depois de uma intro misteriosa e assustadora, escolhíamos a classe de herói, e estávamos no mundo de Diablo, Acto I, Rogue encampment. Escusado será dizer que tivemos de pedir ajuda para perceber o que fazer, mas lá estávamos, assassinando todas as criaturas que apareciam. Horas seguidas, perdidos naquilo.

Com esta pequena história não quero dizer que ao jogar este beta recuperei o mesmo sentimento de admiração e imersão de estar naquele mundo virtual porque é uma experiência única quando era puto e simplesmente existir nesse mundo era incrível por si mesmo, fosse um bom ou mau jogo. No entanto, é inegável, que fiquei perdido no mundo de Diablo 4 como se fosse o Diablo 2. Algo que não aconteceu com o Diablo 3.

Esteticamente, Diablo 4 toma um novo rumo comparativamente à entrada anterior. Tem uma apresentação ultrarrealista seja com os cenários ou os modelos das personagens que lamuriam pelo seu mundo. O ambiente dark fantasy do Diablo 2 volta. Ou pelo menos a ideia que tenho do Diablo 2. De ruínas cobertas em carne e entranhas de onde nascem pernas de aranha ensanguentas, a necrópole negra de Rathma (o primeiro Necromancer) suportada por blocos de obsidiana colossais, e aldeias que perderam o brilho e a esperança.

As opiniões online são, como esperado, variadas. Eu tinha tanta certeza de que o Diablo 4 bebia do Diablo 2, pelo menos em tom e estética, mas até nisso encontrei pessoas a dizer que esta nova entrada em nada de assemelha ao icónico título. Outras opiniões dispares: como o jogo ser demasiado fácil ou difícil; é uma cópia do Path of Exile, o Path of Exile é melhor; as dungeons não têm variedade suficiente e que as entradas anteriores eram melhores padecendo em comparação com o Diablo 2 ou simplesmente o contrário que a natureza “procedural” tem por base ambientes variados. Identifico-me mais com as visões positivas, obviamente. Já disse que estou completamente entregue ao jogo só por esta beta.

Também não quero simplesmente ignorar as críticas negativas. É possível que o jogo no lançamento seja igualmente limitado nos modelos de dungeons, contudo isso apenas seria um aspecto. Aliás, dado que a experiência destas dungeons seja para o jogador caçar loot, entendo que repitam muitos elementos sejam estéticos ou objectivos a cumprir; vai ser áreas “pastilha”, isto é, descartáveis e de uso rápido.

As minhas preocupações estão mais ligadas à história porque é o que me vai envolver além da atmosfera. As side quest tentam dar viva o resta da terra de Sanctuary, porém, na beta não houve nenhuma que me cativasse narrativamente. São pequenas histórias que preenchem o espaço que navegamos com os desenganos, atribulações, desaparecimentos, possessões, a fé, o macabro e o sobrenatural. Estas quests servem mais a atmosfera e o mundo que enredos reviravoltas ou emoções. Não desgostei do que estava lá, mas também não as irei recordar.

A história principal do Acto I, por outro lado, envolvendo a eterna luta entre os demónios e anjos, a forma doentia como essas facções manipulam os humanos que restam como aliados, foi misteriosa e interessante o suficiente. Seguimos a pisadas de Lilith e do seu drama familiar, tentando desvendar os planos dela para Sanctuary. A nossa jornada é acompanhada de diferentes personagens com arcos de desenvolvimento distintos. Vigo, um cavaleiro à procura da sua fé; Neyrelle, uma jovem aprendiz cujo destino é maior do que se pensa. Não espero que no jogo final será incrível, mas, espero que goste o suficiente para ignorar os seus problemas.

Ao mesmo tempo tenho que reconhecer que para muitos jogadores, essa narrativa será secundária. Um enfeite para decorar o verdadeiro objectivo, o melhor loot, a próxima coisa que brilha, os melhores builds, as seasons, o grind constante e eterno de mais items mais dificuldades mais cognomes para se gabarem.

Algumas adições que consigo relembrar-me são: um sistema de stagger contra bosses sendo possível deixar a criatura imóvel durante alguns segundos após preencher essa barra, ataques constantes e combos contribuem; há um incentivo para a componente online com os world events (estilo WoW e Destiny 2) como o chamado world boss, que infelizmente não tive hipótese de experimentar antes do fim da beta early access. Essencialmente resume-se a um boss colossal que exige um grupo de jogadores para o derrotar à semelhança de um MMO; o cavalo também é uma nova adição, apesar de não ter estado disponível na beta, certamente que irá dar jeito a navegar o mundo aberto; também há enemy scalling devido à abertura de espaço e liberdade oferecida ao jogador; e por fim, talvez o caso dos bounty boards? Que não dão marcadores ao jogador, apenas o nome de um local onde se encontra um inimigo único com loot igualmente único.

Esta minha incerteza quanto ao que é novo representa o problema com esta preview, é que a minha relação com este franchise sempre foi esporádica. Joguei o Diablo II com 11 ou 12 anos de idade, o Diablo III joguei algum tempo depois de ter saído, e no entretanto já passaram mais de 8 anos desda última vez que o peguei. O Immortal não toquei porque não jogo no telemóvel. Apesar dessa distância, esta beta fez o suficiente para voltar a render-me a esse mundo sombrio, devastado e miserável.

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